TCU: beneficiários do Bolsa Família gastaram R$ 3,7 bi em bets apenas em janeiro

Atualizado em 8 de novembro de 2025 às 8:07
Governo pode suspender repasse em dinheiro a beneficiário do Bolsa Família por uso em jogos on-line, diz ministro
Cartão do Bolsa Família. Foto: Divulgação

O Tribunal de Contas da União (TCU) identificou que beneficiários do Bolsa Família transferiram cerca de R$ 3,7 bilhões para sites de apostas online apenas em janeiro de 2025, segundo relatório baseado em dados do Banco Central.

O levantamento aponta possíveis irregularidades e o uso indevido de CPFs de beneficiários em movimentações que podem estar ligadas à lavagem de dinheiro.

De acordo com o ministro Jhonatan de Jesus, relator do processo, há “indícios de utilização de CPFs de beneficiários por terceiros”, uma vez que o volume de apostas realizadas é incompatível com a renda declarada. O relatório mostra que 4,4% das famílias apostadoras concentraram 80% do total movimentado, o que reforça a suspeita de irregularidades.

Em um caso extremo, uma única família chegou a transferir R$ 2,1 milhões em um mês. No total, 4,4 milhões de famílias — cerca de 22% dos beneficiários do Bolsa Família — realizaram algum tipo de transação com casas de apostas, movimentando valores que, em muitos casos, superam a renda mensal do programa.

Jogos de azar online. Foto: Pedro Affonso/Folhapress

Valores incompatíveis e indícios de fraude

O TCU identificou 663 famílias que enviaram entre R$ 100 mil e R$ 1,4 milhão para apostas, além de 267 mil famílias com movimentações superiores a R$ 2.400, o que é incompatível com o perfil de renda do Bolsa Família. O tribunal encaminhou os dados ao Coaf, à Receita Federal e ao Ministério Público Federal para investigação.

Os auditores estimam que apenas R$ 162 milhões dos valores apostados — cerca de 1,1% dos gastos do programa em dezembro de 2023 — são recursos efetivamente oriundos do benefício. O restante teria vindo de outras fontes de renda, já que 83% dos beneficiários possuem rendimentos adicionais.

O tribunal determinou que o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) e o Banco Central apresentem, em até 90 dias, um plano de ação para detectar e coibir fraudes relacionadas ao uso do benefício.

A investigação deve buscar mecanismos para cruzar dados financeiros e evitar o uso indevido de informações de beneficiários em apostas.