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Temer deslocou um exército para impedir fotos da mulher no Carnaval. E se ele vigiasse os amigos assim? Por Kiko Nogueira

Marcela Temer e o marido

 

Michel Temer foi passar o Carnaval com os seus na Base Naval de Aratu, na Bahia, perto de Salvador, onde toda noite uma multidão pede sua saída.

Foi escalada uma equipe gigantesca de seguranças para fazer o reconhecimento e a proteção do local. Um morro próximo foi isolado.

A casa fica num terreno escondido pelo que restou de Mata Atlântica. A Marinha colocou navios para evitar que embarcações se aproximem. A área cercada é impenetrável.

É mais reservado que Mangaratiba, no Rio de Janeiro, onde os Temer passaram o réveillon. Numa caminhada com a patroa, ele topou com um “Fora Temer” escrito na areia.

Seguiu em frente, fingindo que nada havia acontecido. Depois mandou um estafeta apagar a inscrição. Melhor do que ele mesmo voltar na calada da noite e tirar com os pezinhos.

A mudança de endereço tem uma razão: impedir os paparazzi de fotografar a primeira dama de biquini, maiô, burca ou o que quer que ela vista para ir à praia com Michelzinho, com a mãe, ou sozinha.

Quanto está custando essa operação de guerra?

É pouco provável que Michel consiga relaxar num Rider, fumando seu charuto e acariciando seu golden retriever Thor numa boa.

Seu advogado e parceiro de décadas José Yunes entregou o ministro Eliseu Padilha, para quem serviu como “mula”, José Serra saiu correndo e na quarta feira de cinzas o relator do processo no TSE que pede a cassação da chapa Dilma-Temer, Herman Benjamin, vai interrogar Marcelo Odebrecht.

O Titanic de Michel faz água por todos os lados e os buracos foram causados pelos queridos amigos e aliados, sete deles demitidos do governo.

E se ele tivesse com esses antigos companheiros o mesmo zelo que demonstra para com a mulher? E se eles fossem vigiados como ela? E se tivessem que apresentar o mesmo decoro?

Ali na capital baiana, a minutos de viagem, está o edifício de luxo de Geddel, cuja construção Temer tentou facilitar praticando a chamada advocacia administrativa, que em português é uma violação da coisa pública.

Geddelzinho pode tudo, Padilha idem, inclusive levar grana por aí, Cunha é premiado com um chegado no Ministério da Justiça, Moreira recebe foro privilegiado, Jucá quer perpetuar o foro privilegiado — todos eles brincam à vontade amparados na licenciosidade de tio Michel.

Marcela não.

Um exército é destacado para que ela não seja fotografada em trajes de banho.

Isso não é para protegê-la, ou à sua “honra”, mas ao seu marido. Não é a intimidade dela que ele está tentando preservar, mas a dele, a do coronel, em seu código moral próprio.

A turma de Michel assalta os cofres públicos na maior, sem ser incomodada pelo chefe. Muito pelo contrário. Ele demite a contragosto, passando a mão na cabeça.

Marcela, desde o golpe, não vai mais à manicure no shooping, não leva o cão para passear e, agora, soldados a mantêm encastelada.

Ela sabe que este pode ser seu derradeiro Carnaval como primeira dama. Seria diferente se seu digníssimo esposo tivesse tomado conta de sua gangue como toma dela.

O Brasil paga a suruba dos meninos.

Segurança na Base Naval de Aratu, na Bahia

Kiko Nogueira

Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

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Kiko Nogueira

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