Temer se apresenta como jurista, mas faz defesa como bandido vulgar. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 27 de junho de 2017 às 17:38
Temer chega para fazer a defesa acompanhado de apoiadores: parecia manifestação de uma gangue

Michel Temer foi professor de cursinho preparatório para concurso de procurador em São Paulo e, nessa condição, publicava anúncio em jornais antes de entrar no PMDB e, de crise em crise, assumir funções importantes do Estado, a partir do governo de Franco Montoro, na década de 80.

Era também um professor graduado da PUC de São Paulo, mas sua fala de hoje em defesa própria pode confundir leigos, mas não resiste a uma análise de quem tem conhecimentos mínimos do Direito.

Ele disse que não há provas de corrupção passiva, crime do qual é acusado pelo procurador geral da República, Rodrigo Janot.

Diz o artigo 317 do Código Penal que basta ao agente público aceitar a oferta de vantagem indevida para cometer o crime de corrupção passiva.

As conversas gravadas de Joesley Batista mostram que Temer aceita os termos de uma relação privilegiada que o empresário propõe, com Rodrigo Rocha Loures na função de preposto do presidente.

Rocha Loures seria o representante de Temer nas situações corriqueiras.

Nos casos mais complexos, Joesley e Temer falariam diretamente, em encontros sigilosos, longe dos olhos da imprensa, sempre no fim da noite ou no início da madrugada.

Por que Temer aceitou os termos de Joesley, como mostra a gravação?

É certo que Temer já tinha sido beneficiário de vantagens proporcionadas pelo empresário.

Além do dinheiro, seja pelo caixa oficial de campanha, seja pelo caixa 2, ele viajou em jatinho particular do empresário – viagem que caracteriza obtenção de vantagem indevida e é impossível negar.

Rodrigo Rocha Loures, que Temer oferece como seu preposto na relação com a JBS, aceita e recebe mala com 500 mil reais, fruto de um acordo que garantiria ao presidente e a seu homem de confiança – longa manus – 1 milhão de reais por semana, durante 25 anos.

A Polícia Federal monitorou a entrega da mala, depois do acordo firmado entre o preposto de Temer e a JBS.

Precisa de mais provas?

Em sua defesa, Temer partiu para o ataque e, numa estratégia maliciosa, que mais parece a de um bandido vulgar, insinua, dizendo que não insinuava, que o procurador pode ter se beneficiado de uma atitude de um ex-procurador, Marcelo Miller.

Miller deixou o serviço público e foi trabalhar num escritório de advocacia que presta serviços para Joesley Batista.

Miller auxiliou Janot nos acordos de delação premiada da Odebrecht e, depois disso, foi auxiliar Joesley a fazer o mesmo, só que do outro lado do balcão.

Ninguém se demitiria de um cargo de procurador se não fosse em troca de um contrato milionário.

É uma situação evidente de conflito de interesses.

Mas, entre o que fez Miller, e o que faz os homens de Michel, não há comparação.

O primeiro mandatário do País é cercado por achacadores, chantagistas, carregadores de mala, propineiros, pessoas que se tratam por porco, louco e boca de jacaré.

Todos agem conectados a Michel Temer.

Ele mesmo suja as mãos e deixa rastro, como fez no caso em que pressionou um ministro da Cultura a ceder a um de seus homens de confiança, Geddel Vieira Lima, num projeto imobiliário irregular.

Deixou rastro também quando franqueou a garagem da residência presidencial a um empresário corrupto, para conversas noturnas.

O desfecho do lamentável episódio de hoje – um presidente em pleno exercício do cargo se defendendo da acusação de ser bandido – mostra o nível desse grupo que os ex-paneleiros colocaram no poder.

Depois da fala, ouviram-se palmas e alguns gritos:

— Bravo!

Parecia a manifestação de uma gangue.

O Brasil do ex-paneleiros, que, como se estivessem na Copa do Mundo, cantavam “sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor”, fez por merecer.