Tênis “destruído” da Balenciaga mostra que ricos pagam para ser otários. Por Nathalí

Atualizado em 11 de maio de 2022 às 9:08
Foto: Reprodução

Por Nathalí

“Destroyed” é a nova moda entre os ricos. Significa basicamente pagar caro – muito caro – pra fazer cosplay de pobre.

A marca Balenciaga disponibilizou ontem a pré-venda para os seus novos tênis. Por até US$ 1,8 mil (cerca de 10 mil reais) você pode adquirir um tênis rasgado, manchado e com cara de que foi achado no lixo.

No site da grife francesa, o tênis é descrito como “Algodão e borracha totalmente destruídos” com “rasgos em todo o tecido”. E o rico? O rico compra.

O diretor criativo da marca fala na importância da propaganda e em “se comunicar com a geração Z”, o que pode ser lido como “arrancar dinheiro de adolescentes burgueses – e burros.”

Tenho uma teoria que as marcas fazem experimentos lucrativos para descobrirem até onde vai a otarice dos ricos (e descobrem que ela não tem limites).

O burguês não compra um objeto, ele compra o status. Quanto maior o preço, maior o status, então pouco importa se a peça está inteira ou totalmente destruída. Basta que seja cara.

Hoje, na Indústria da moda – como em qualquer outra – o importante não é fazer boas coleções (que serão incineradas quando a próxima coleção for lançada), mas viralizar na internet.

É assim que a Balenciaga faz com que adolescentes paguem 10 mil em tênis destruídos – e não é a única.

Em entrevista, o estilista teve a pachorra de dizer que “não quer provar nada para ninguém e não pede reconhecimento de ninguém.”

Claro. Eles não querem reconhecimento, eles querem o dinheiro dos ricos. Eles não são artistas, afinal, são empresários.

Eles criam peças horrorosas e caríssimas e chamam isso de autenticidade. Os ricos, desprovidos de inteligência e bom gosto, compram facilmente o discurso.

Eles vão além ao dizer que não produzem moda, produzem cultura.

Alto lá. Cultura é produzida organicamente e não inclui lucro. A produção das grandes grifes está mais para uma máfia, mesmo.

Eles têm a coragem de se comportarem como gênios incompreendidos em uma indústria milionária que não entrega nada de bom ao mundo, e isso só poderia mesmo ser normativizado nesses tempos loucos.

Eles sabem que a indústria da moda – responsável por 8% da emissão de gás carbônico no mundo, atrás apenas da indústria petrolífera, não tem impactos apenas ambientais, mas também sociais, mas ainda assim se comportam como heróis: eis a cara de pau dos ricos.

Segundo estudo conduzido pela Boston Consulting Group o Pulse of the Fashion Industry, de 2019, até 2030 a indústria global de vestuário e calçados terá crescido 81%, chegando a 102 milhões de toneladas de roupas e acessórios, exercendo uma pressão sem precedentes sobre os recursos do planeta. A maioria dessas peças será destruída para que se lance mais peças virais.

Pessoas por trás dessa indústria não são artistas ou heróis, são inimigas do planeta e de seus habitantes.

É isso que primordialmente nos interessa – a burguesia que gaste seu dinheiro em lixo pra se sentir “diferentona”.

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Nathalí Macedo
Nathalí Macedo, escritora baiana com 15 anos de experiência e 3 livros publicados: As mulheres que possuo (2014), Ser adulta e outras banalidades (2017) e A tragédia política como entretenimento (2023). Doutora em crítica cultural. Escreve, pinta e borda.