“Tenta. Fracassa. Não importa. Tenta outra vez”

Atualizado em 27 de outubro de 2014 às 11:44

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O texto abaixo foi publicado otiginalmente no blog Saque e Voleio, de Alexandre Cossenza.

“Tenta. Fracassa. Não importa. Tenta outra vez.
Fracassa de novo. Fracassa melhor.”

A frase, tatuada no braço esquerdo do tenista suíço diz mais do que todas linhas deste post. Siga adiante ciente disto, caro leitor. Porque há pouco mais a dizer sobre o mais novo campeão de Grand Slam. A coroação de Stanislas Wawrinka, neste domingo, é nada mais do que uma celebração de fé, luta, persistência, uma dúzia de adjetivos que, como escrevi linhas acima, não reproduzem a relação entre a frase de Samuel Beckett e o título do Australian Open.

Contra Novak Djokovic, eram 14 derrotas seguidas, incluindo um traumatizante quinto set lá mesmo, em Melbourne, pouco mais de um ano atrás. Contra Rafael Nadal eram 12 reveses. Nenhuma vitória, nenhum set vencido. Seis tie-breaks perdidos.

“Tenta. Fracassa. Não importa. Tenta outra vez.”

E Wawrinka tentou. E tentou. E tentou. E, enfim, conseguiu. E não foi em uma primeira rodada de ATP 500 nem em uma quase relevante final de aquecimento. Foi em Melbourne, na Rod Laver Arena, para conquistar um título de Grand Slam.

Não foi de um dia para o outro, claro. Talvez o Australian Open de 2013 tenha acordado o mundo para o potencial de Wawrinka. Sim, o suíço já havia sido top 10 lá em 2008, mas ninguém via, até então potencial para vencer um Slam. E talvez aquele torneio do ano passado tenha despertado o próprio Wawrinka, ainda que grandes resultados não tenham aparecido imediatamente depois. Mas o jogo estava lá esse tempo inteiro. O saque, o forehand angulado, os voleios… Tudo funcionava. Talvez não com a consistência necessária, mas estava tudo ali.

“Tenta. Fracassa. Não importa. Tenta outra vez.”

E o backhand? Nunca esteve melhor, mais pesado, mais contundente. Obsceno, eu diria, só para discordar logo depois. Nu artístico descreveria melhor o que Wawrinka faz com o golpe. Nem Djokovic, nem Berdych, nem Nadal. Nenhum dos três encontrou uma solução para a esquerda de Stan.

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A coroação, ironia do destino, veio com a manifestação de mais um dementador. Depois fazer de um primeiro set brilhante e de atropelar um Nadal abalado fisicamente na segunda parcial, Stan desandou a errar. Talvez pelos nervos por causa do título que se aproximava, talvez pela incerteza sobre a lesão do oponente, Wawrinka perdeu o terceiro set por méritos próprios. E depois de quebrar o rival no quarto set, falhou espetacularmente. Errou três bolas fáceis e cedeu a quebra.

Nadal não tinha como jogar de igual para igual. O jogo estava na raquete do suíço, que fez o patronus, colocou a cabeça no lugar e quebrou o espanhol outra vez. O placar mostrava 5/3. Mais quatro pontos, e Stanislas Wawrinka tornou-se, aos 28 anos, campeão do Australian Open.

“Fracassa de novo. Fracassa melhor.”

PS: – A frase citada no primeiro parágrafo é a tradução oficial do trecho retirado da prosa “Worstward Ho”, do irlandês Samuel Beckett, publicada em 1983, seis anos antes da morte do escritor. A versão tatuada no braço de Wawrinka é a original, em inglês, que diz: “Ever tried. Ever failed. No matter. Try again. Fail again. Fail Better.”