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Ter amigos negros ou gays não isenta ninguém de racismo ou homofobia. Por Marina Benini

Jair Bolsonaro e Hélio Negão em foto divulgada em fevereiro de 2016. Foto: Divulgação/Facebook

Mulher, negra, desde pequena ouço diversas frases de cunho pejorativo, em referência meu gênero ou minha etnia, que eu ouvia com naturalidade.

Minha mãe é descendente de italianos e meu pai, de africanos.

Recentemente, conversando com um conhecido, ele soltou a seguinte frase: “Conheço mulheres que são muito capacitadas”.

Ele disse tamanho absurdo como se fosse algo positivo. Não é. É extremamente preconceituoso.

Lembra as pessoas que dizem que têm amigo gay ou amigo negro para tentar justificar que é racista ou usar como álibi depois de comentários preconceituosos.

Nosso futuro presente é especialista nessa estratégia.

Anda para baixo e para cima com um correligionário negro, a quem emprestou o nome Bolsonaro, e diz que seu sogro é o Paulo Negão.

“Como posso ser racista?”, pergunta.

É.

Racista e preconceituoso.

Referiu-se, em uma palestra, a negros como se fossem animais pesados em arrobas.

Talvez, eles não entendam o ponto negativo de suas frases, acham que é brincadeira.

O conhecido que falou sobre a capacidade das mulheres me apresentou a um ambiente de trabalho majoritariamente masculino, em que a mulher presente é a “moça do RH”, que é brava e os funcionários temem.

Não satisfeito com seu deslize, ele continuou: “Na minha antiga empresa, a minha chefe era mulher e ela botava medo nas pessoas”

A mulher não é capacitada a trabalhar, ela trabalha e ponto. Quando se diz que a mulher é capacitada, é como se a capacidade, nesse caso, fosse algo extraordinário.

Com certeza, ele não falaria isso de um funcionário do sexo masculino.

Ao meu ver, ele acredita que a referência à presença de uma mulher em seu ambiente de trabalho o torna mais compreensivo à causa feminista.

Por essa lógica, a chefe teve que “botar medo” nos funcionários para ser considerada uma capacitada para o cargo.

Há outras qualificações que definem um bom ou um mau chefe. Será que, para sermos consideradas capacitadas, temos que colocar medo nas pessoas?

As pessoas acreditam que a presença de um representante da diversidade em seu ambiente cotidiano os livra de ser preconceituosos.

Uma reportagem do UOL tocou nesse ponto, e disse que não há nada de inocente no comportamento de quem alega ser amigo ou colega de negro ou gay para justificar a aceitação da diversidade.

“Não se comete violência sem perceber, e racismo é violência. Para resolver o problema, temos de nos responsabilizar pelos nossos atos”, diz a escritora Kenia Maria, da ONU Mulheres.

A mesma política vale para o público LGBT, segundo a professora Zilda Marcia Gricoli Ioko, do Departamento de História da USP.

“Reconhecer alguém da família não representa uma verdadeira transformação, muitas vezes a rejeição se mantém”, afirmou.

Pessoas dizem, por exemplo, que têm um parente gay na família como se isso a livrasse de ser considerado preconceituoso.

O preconceito não é padronizado, não há uma maneira determinada de discriminação. Ele é apresentado de diversas maneiras no cotidiano, muitas vezes de forma silenciosa.

Nestas eleições, os racistas saíram do armário, mas, quando são pegos no violência, dizem:

Como posso ser racista se tenho amigo negro?

Com posso não respeitar os direitos das mulheres, se tenho uma filha?

Tenho muitos amigos que são gays, não tenho nada contra os gays.

Dizem isso e logo contam uma piada, para diminuir quem não faz parte do universo machista, misógino e racista.

Isso tem que acabar.

x.x.x.x

Marina Benini é estagiária de Jornalismo

Marina Benini de Araujo

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Marina Benini de Araujo

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