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A farsa da chamada terceira via. Por José Dirceu

Os candidatos da chamada terceira via. Foto: Reprodução

Por José Dirceu

Assistimos, não com perplexidade nem surpresa, às Organizações Globo atuarem, mais uma vez, como partido político ou, como dizíamos no passado, fazerem o papel de Estado maior da burguesia. O termo pode parecer exagerado e a atribuição injusta, mas a sua recente atuação na Lava Jato exposta pela Vaza Jato, ainda muito presente na memória do país, revela exatamente o que está começando a engendrar. Em nome da coalizão de 2016 que deu o golpe contra a presidenta Dilma, deu início a uma operação para tentar derrotar Lula em 2022.

Não se trata de derrotar Bolsonaro, até porque, depois da tentativa fracassada de 7 de Setembro, todo esforço é para preservar as chamadas reformas do Paulo Guedes, um tanto desmoralizado, e buscar de todas formas enquadrar os partidos de direita e do centro numa suposta política de frente ampla contra Bolsonaro. Entre os exemplos dessa tática, está o fracassado ato convocado pelo MBL e incensado pela mídia corporativa, rapidamente abandonado para dar início, com todo peso midiático, à formação de uma opinião pública a favor de um anti Lula batizado de 3ª via para esconder seu verdadeiro objetivo.

Sem escrúpulo ou pudor nem papas na língua, assistimos a um espetáculo deplorável de 3 pré-candidatos recolocando a agenda da corrupção e do antipetismo, com pérolas como a de Mandetta que, com uma cara de inocente, revelou que, no início do PT, pregamos a morte de Magalhães Pinto, um dos articuladores do golpe de 64, ministro da ditadura e que na votação das Diretas se ausentou do plenário. Sobre a fusão de seu partido, o DEM, com o PSL, apenas balbuciou algumas palavras, já que sua legenda participa do governo Bolsonaro, assim como o MDB. E, junto com o PSDB, todos votam a favor da agenda que resultou na atual crise social, econômica e institucional, quando a própria democracia está em risco.

Alessandro Vieira, do Cidadania, teve a cara de pau de afirmar que as condenações de Lula transitaram pelas 4 Instâncias escondendo o óbvio: foram anuladas e o juiz declarado suspeito, parcial. Ciro fez seu papel, meio constrangido de estar ali, de líder da bancada anti PT e Lula.

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Terceira via sem propostas

Fora o fato de que Lula tem hoje votos para ir ao 2º turno e até vencer no 1º, não ouvimos nada sobre como tirar o nosso povo da tragédia humanitária e nacional em que vivemos. Ao contrário, há uma evidente intenção de esconder o lado sombrio da obra do golpe de 2016, o fracasso total dos governos Temer e Bolsonaro no que interessa: o crescimento econômico com distribuição de renda, o combate à miséria e, agora, de novo, à fome, o enfrentamento da emergência climática e social, a crise energética e a carestia que sufoca nosso povo.

O mundo caminha para uma revisão do neoliberalismo. Depois dos Estados Unidos, a União Europeia lança um programa de mais de 2 trilhões de euros para uma Europa mais verde, mais digital e mais resiliente, para criar oportunidades de emprego, aproveitando a tragédia da pandemia para iniciar um novo caminho para a transição climática e digital, com um novo programa de saúde, coesão agrícola, proteção a biodiversidade e igualdade de gênero.

Enquanto isso, aqui assistimos ao pré-candidato do PSDB Eduardo Leite ­–que, como o concorrente João Doria, detém uma rejeição alta em seu Estado– pregar como saída para o Brasil as privatizações e a austeridade, exatamente o que pregou Temer no sua Ponte para o Futuro e Paulo Guedes executou nos levando à atual situação, onde nem confiança e segurança jurídica existem mais, muito menos crescimento ou futuro.

No fundo, o poder econômico se alia ao poder midiático para, juntos, imporem de cima para baixo, sem pudor e constrangimento repito, aos partidos sócios menores do golpe e do governo Bolsonaro um candidato. Quando o natural em uma democracia, como acontece desde 1989, é a disputa democrática no 1º turno entre as diferentes propostas e saídas para o Brasil, com o eleitor escolhendo o presidente ou levando para o 2º turno 2 dos candidatos.

Há sempre a saída do impeachment, mas esta não é e nunca foi a prioridade das elites que hoje querem uma alternativa a Bolsonaro. As recentes declarações de grandes banqueiros e empresários, de economistas escalados pela mídia corporativa como porta-vozes da elite, como foi o caso de Affonso Pastore que afirmou que Lula é mensalão e petrolão, fazendo de conta que não houve a decisão do STF sobre Moro e convenientemente se esquecendo do mensalão tucano e das prisões de três governadores do PSDB e do próprio Temer, evidenciam que optaram pelo caminho do ataque frontal a Lula e pela imposição de um nome único para enfrentá-lo.

Mas a vida e a realidade se impõem, os fatos estão aí. Não há esse nome, nossa direita carece de líderes reais, e lhe falta o essencial: voto. Esse é o real problema da Globo e da elite empresarial. Não têm o que apresentar para o povo. Fracassaram rotundamente e jogaram o país na sua pior crise social e econômica, ao romper o pacto democrático de 1988 e levar Bolsonaro ao poder. Agora pagam o preço do descrédito popular e rejeição de seus candidatos.

Propõem ao país o mesmo do que estamos vivendo: a continuidade do desmonte do Estado Nacional e das conquistas sociais da Constituição de 1988, um bolsonarismo sem ele e agora sem Guedes pelo visto. Abandonaram rapidamente a prioridade, que é o impedimento de Bolsonaro e a defesa da democracia, para retomar a odiosa guerra contra Lula e o PT, mesmo ao preço do uso e abuso de uma concessão pública de TV, fazendo abertamente política partidária e atuando como ator no processo eleitoral, um ensaio do que pretendem na campanha de 22.

Nós continuamos onde sempre estivemos, na luta pelo impeachment –dia 2 de outubro, nas ruas em todo o Brasil no grande ato “Fora Bolsonaro”– e na disputa democrática dos governos estaduais como fazemos desde 1982 e da presidência, desde 1989, sem nunca nos afastar do respeito à soberania popular via eleições livres, sem o uso e abuso do poder econômico, dos meios de comunicação, da coerção via Estado, exigências básicas para eleições democráticas.

Diario do Centro do Mundo

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