“Tinha cheiro de morte, as pessoas pareciam em transe”: delegado que investiga rinha dos cachorros fala ao DCM

Atualizado em 18 de dezembro de 2019 às 17:47

O delegado Jan Plzak, que comandou a operação que resultou na prisão de 41 pessoas na rinha de cachorros, descreveu ao DCM a impressão que teve ao chegar ao sítio em Mairiporã. “Tinha um cheiro de morte no ar, um clima muito baixo astral, parecia que estava todo mundo em transe”, disse ele.

O senhor poderia explicar melhor?

“A polícia chegou como é normal nesse tipo de operação: ‘É a polícia! Mão pra cabeça!’ Alguns correram, mas muitos continuaram com os olhos vidrados na rinha. Eles pareciam enfeitiçados. Dois cachorros estavam brigando, e eles não conseguiam parar de olhar”.

Os policiais apreenderam os aparelhos celulares dos criminosos, mas ainda aguardam ordem judicial para poder acessar o conteúdo. A expectativa deles é que as mensagens por aplicativo ou SMS ajudem a esclarecer o caso.

Como se formou esse rede? Quem participa dela? Quanto dinheiro está envolvido nas apostas? Como são organizadas as competições?

São questões ainda em aberto.

Alguém deu depoimento para explicar em detalhes a organização?

“Não. Quem participa de um evento cruel como este não tem coragem de falar”, respondeu o delegado.

Os policiais tinham a informação de que os participantes usavam droga no local, mas não encontraram nada que comprove a suspeita.

As drogas encontradas no local tinham outra finalidade: eram aplicadas nos cachorros, para que eles ficassem mais agressivos e também mais resistentes.

Na investigação, que começou antes da operação de sábado, os policiais descobriram que a preparação para a rinha também era marcada por muita crueldade.

“Os cachorros eram enterrados e ficavam apenas com a cabeça para fora durante três dias. Quando eram retirados, colocavam um filhote perto deles, para que eles comesse. Assim, com o gosto de sangue na boca, iam para a luta”, disse.

Se o sangue fresco ajuda a aumentar a agressividade, por que era feito churrasco de carne de cachorro?

“Eles (os presos) não disseram, mas tudo indica que era para eles comerem. A carne de cachorro, já identificada por uma médica veterinária, estava na churrasqueira ao lado da linguiça, da picanha, da alcatra. Qual seria o motivo? Me parece que era para os apostadores comerem”, afirmou.

Qual o perfil do apostador?

“Tem gente de todo tipo: o médico, o médico veterinário, fiscal, comerciante. Perfil variado”, comentou. Havia também cinco estrangeiros — um americano, dois peruanos e dois mexicano—, além de um policial militar.

O médico Leônidas Bueno Fernandes Filho, um dos participantes, teve o perfil traçado em reportagem do DCM.

Gastroenterologista, casado, morador de Goiânia, ele usava a rede social para postagens moralistas, em apoio à Lava Jato e se mostrava indignado com a corrupção. Era o que se pode chamar de cidadão de bem.

Mas certamente não é o único.

A rede Social publicou a foto de 34 dos 41 presos, com sua identificação — veja abaixo. Além deles, estava no sítio uma única mulher, esposa proprietário, que não tinha nenhum envolvimento com a organização da competição ou com as apostas. Por essa razão, ela não foi presa.

Abaixo, segue também a relação com o nome de todos os presos.

Os envolvidos responderão por três crimes: maus tratos aos animais com agravante de morte, associação criminosa e jogo de azar.

A prisão só aconteceu por conta do enquadramento no crime de associação criminosa. Os demais crimes têm pena muito baixa — a lei exige que o indiciado assine termo circunstanciado e não vá preso.

O delito de maus tratos a animais é tratado como um crime menor, com pena de no máximo um ano (mais um terço pela morte). O delito de jogo de azar também tem pena de um ano.

Para o crime de associação criminosa, a pena prevista de um a três anos.

Ou seja, ainda que recebam condenação com pena máxima, talvez nem fiquem presos.

“Eu fiquei realmente impressionado. Como policial, já vi muita coisa, mas não imaginava que alguém pudesse se divertir com o sofrimento intenso dos cachorros. Parecia um vício”, comentou o delegado Jan Jan Plzak, que é o titular da Segunda Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente de São Paulo.

Seguem as fotos dos presos: