
A indústria bélica do Rio Grande do Sul começa a sentir os impactos das tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos sobre suas exportações. Uma fornecedora da fabricante de armas Taurus, localizada no condomínio de fornecedores da empresa em São Leopoldo (RS) concedeu férias coletivas para pelo menos 40 funcionários a partir de agosto.
A medida é uma resposta direta à drástica redução na demanda causada pelo tarifaço de Donald Trump, presidente americano. Os produtos fabricados pela subsidiária tinham como destino específico o mercado dos EUA, o que se tornou economicamente inviável com a nova taxa de importação.
Inicialmente, as férias foram concedidas por 15 dias, com possibilidade de prorrogação de mais 15, enquanto sindicatos foram chamados para negociar alternativas. Segundo o CEO Global da Taurus, Salesio Nuhs, a paralisação faz parte de uma estratégia mais ampla para mitigar os efeitos da taxação.
“A medida faz parte da estratégia informada anteriormente de início da transferência de montagem das pistolas da família G para a unidade da Taurus nos Estados Unidos, a partir de setembro, e antecipação da exportação de peças e componentes, com o intuito de minimizar o impacto da ‘taxação'”, afirmou em nota.
O problema é de grande escala, uma vez que a Taurus exporta 80% da produção de sua fábrica gaúcha para os Estados Unidos, onde emprega 2,7 mil trabalhadores. A direção da empresa afirma que o tarifaço praticamente inviabiliza a continuidade das exportações no modelo atual.

O impacto da medida comercial dos EUA não se limita à Taurus, empresa considerada símbolo do bolsonarismo . Em Montenegro (RS), a Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC), uma das maiores geradoras de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) do município, também comunicou férias coletivas para 250 dos seus 2.500 funcionários.
A CBC negocia com o governo do estado a antecipação de créditos de ICMS para reforçar seu caixa durante a crise. Paralelamente, a empresa revisa seu planejamento estratégico e admite que, se a tarifa for mantida, até um terço de sua produção pode ser transferida para os EUA para permanecer competitiva.
O diretor executivo Comercial & Marketing da CBC, Paulo Ricardo Gomes, destacou a impossibilidade de competir com concorrentes locais e internacionais com uma tarifa adicional de 50%. A empresa explora mercados alternativos, como Europa e Ásia, mas reconhece que nenhum possui a mesma magnitude do norte-americano, podendo ser necessários mais ajustes, incluindo possíveis demissões.