Todos nós somos hospedeiros de Bolsonaro. Por Moisés Mendes

Atualizado em 21 de março de 2020 às 12:41
Jair Bolsonaro. Foto: CARL DE SOUZA/AFP

Este é um cálculo da prefeitura de São Paulo: apesar da ordem de confinamento, apenas 60% da população para de circular, de ir para o trabalho, para as compras sempre esparsadas e para as casas de amigos e parentes. Muitos ainda se aglomeram em conversas com conhecidos nas ruas, onde as crianças continuam brincando.

Quem menos fica confinado é o pobre, que deixa de trabalhar, mas não deixa de circular nos subúrbios e nas favelas. É o que informam os jornais da grande imprensa.

A explicação parece simplista: as casas são pequenas e não conseguem acolher todo mundo ao mesmo tempo no confinamento. Mas os jornais não falam da força do convívio comunitário.

Os pobres acabam sendo punidos pela cultura da vizinhança, que a classe média abandonou há muito tempo.

E os ricos? Os ricos vão para seus condomínios na serra e nas praias. Os ricos e a classe média entediada andam com o coronavírus pra lá e pra cá, porque têm moradias espaçosas na cidade, na praia, no campo e na fazenda.

Os chineses estão tentando rastrear o primeiro contaminado e os caminhos do coronavírus. Porque sabe-se desde Cristo que uma pandemia só se alastra porque as pessoas se movimentam.

Mas as pessoas não conseguem parar, sob as mais variadas alegações. Os chineses pararam. Mas os brasileiros, liderados pelo pai do sujeito que ofendeu os chineses, não param.

Só não deveriam parar os profissionais da saúde e de áreas essenciais, como segurança, água, luz. Os outros deveriam parar. Só assim médicos e enfermeiros podem continuar trabalhando.

Mas leio também que em São Paulo os profissionais da saúde são hostilizados e agredidos nas ruas porque andam de branco. Estão perseguindo quem anda de branco.

O bolsonarismo é uma doença da sociedade egoísta, individualista, resignada, alienada e idiotizada, e não só dos seguidores dos Bolsonaros, do pai e dos filhos. Todos nós somos hospedeiros dos Bolsonaros.