Toffoli enterrou a Justiça na cova rasa de Vavá. Por José Cássio

Atualizado em 30 de janeiro de 2019 às 15:38
Lula com o falecido irmão Vavá

Se não se pode mais esperar algo decente da Justiça e das autoridades, o ex-presidente Lula haveria de mostrar que o Brasil ainda não virou um hospício.

Da sua cela em Curitiba, declinou da intenção de despedir-se de seu irmão Genival Inácio da Silva, o Vavá, que morreu de câncer na manhã desta terça-feira, aos 79 anos.

Pudera: a decisão do ministro Dias Toffoli de cumprir a Lei deu-se em condições surreais e em momento inoportuno – para ver o irmão, Lula teria de ser encaminhado a uma unidade militar nas proximidades de São Bernardo do Campo e para lá também seria levado o corpo de Vavá.

Se já não bastasse o inusitado da medida, ela foi tomada no exato momento em que o corpo descia à cova.

Toffoli deu uma canetada de nove páginas para conceder uma das decisões mais esdrúxulas da história da Justiça brasileira.

De forma vil e covarde, escreveu que os carrascos do PF se manifestaram contra o pedido por causa da falta de tempo hábil para a ida do ex-presidente ao velório.

Argumentou que a PF também apontou “risco quanto à segurança dos presentes e dos agentes públicos mobilizados, levando-se em conta as notícias veiculadas em redes sociais sobre a convocação de militantes para comparecerem a São Bernardo do Campo”.

Ressaltou, no entanto, que todas essas intercorrências não poderiam impedir o direito de Lula “ainda que de forma parcial”.

“As intercorrências apontadas no relatório policial, a meu ver, não devem obstar o cumprimento de um direito assegurado àqueles que estão submetidos a regime de cumprimento de pena, ainda que de forma parcial, vale dizer, de encontrar-se com familiares em local reservado e preestabelecido para prestar a devida solidariedade aos seus, mesmo após o sepultamento, já que não há objeção da lei”.

Na sua decisão, proibiu o uso de celulares, a presença de jornalistas e declarações públicas de Lula.

Disse que estava prezando pela segurança do ex-presidente, dos presentes e dos agentes públicos.

Mentira.

O que Toffoli não quer é que o povo veja Lula. Que sinta o calor dos seus olhos, que ouça com esperança as palavras que saem da sua boca.

Quem acredita em Dias Toffoli acredita em qualquer coisa.

Se não fosse o ex-presidente Lula ter tido um mínimo de lucidez, o Brasil teria assistido a uma das cenas mais dantescas da sua história: o corpo de um homem de 79 anos sendo retirado da cova e levado, sob a tutela do Estado, para uma unidade militar onde ninguém poderia entrar, filmar ou fotografar.

Toffoli poderia ter feito como a juíza Carolina Lebbos, que vestiu a carapuça de ‘capitã do mato’ e não se envergonha disso. Poderia fazer como os carrascos da PF – ‘não autorizo, pronto e acabou’.

Era mais honesto. Mas, não.

Enterrou o pouco que faltava da credibilidade da Justiça na cova rasa onde jaz Vavá.

Sem perceber, escreveu o roteiro de uma comédia de terror. Uma comédia da qual todos nós fazemos parte, infelizmente.