Tolerância ao fascismo faz judeu ortodoxo sair do MBL

Atualizado em 12 de dezembro de 2024 às 21:31
Congresso Nacional do Movimento Brasil Livre. Reprodução

Willian Tavares, ex-moderador de grupos do MBL, relatou ao Intercept Brasil como passou de entusiasta do movimento a denunciador de supostas conivências com ideologias extremistas. Sua história com o Movimento Brasil Livre começou aos 15 anos, em 2015, quando se encantou com a retórica de Kim Kataguiri (União) durante os protestos contra Dilma Rousseff (PT).

Anos depois, em 2022, ingressou em grupos de WhatsApp do movimento e, em pouco tempo, tornou-se secretário de moderação. Contudo, abandonou o cargo em 2024, denunciando tolerância ao nazismo entre membros.

Segundo Tavares, o MBL organiza seus apoiadores em grupos de WhatsApp e Telegram, onde circulam, desde 2022, mensagens machistas e misóginas. Ele afirma que, ao crescer na estrutura do movimento, descobriu casos de racismo e eugenia tolerados pela liderança.

Em entrevista, ele revelou que deixou o movimento após a saída de um amigo judeu ortodoxo que não se sentia seguro no ambiente. A situação foi corroborada por prints, vídeos e documentos apresentados por Tavares.

Grupo alternava entre dois nomes: Resistência Supra MBL e Cabaré de Fascistas - Reprodução
Grupo alternava entre dois nomes: Resistência Supra MBL e Cabaré de Fascistas – Reprodução

O caso reacende questionamentos sobre o MBL. Em 2022, Kim Kataguiri declarou no podcast Flow que não via problema na existência de um partido nazista no Brasil, declaração da qual depois recuou. Em 2024, durante sessão do Conselho de Ética da Câmara, o deputado Glauber Braga, do PSOL, mencionou vínculos entre o MBL e grupos neonazistas, o que foi negado por Kataguiri.

Willian Tavares relata que, em março de 2023, uma falha de segurança após a fusão de três grupos do WhatsApp resultou na invasão de neonazistas, que compartilharam conteúdo racista e pornográfico. Além disso, ele foi vítima de doxing, com seus dados pessoais expostos. Apesar de denunciar o caso ao ‘Ministério da Moderação’, foi investigado como possível culpado pelo vazamento.

Outro ponto de ruptura foi a atuação de Lucas Tartaglione, ex-secretário de moderação, que teria feito declarações eugenistas e justificativas à violência contra moradores de rua. Tartaglione foi expulso do movimento em 2024, após a ameaça de exposição pública. Apesar disso, Tavares denuncia a leniência de líderes do MBL em relação à utilização de símbolos supostamente nazistas por membros.

Posts de Lucas Tartaglione em grupo de WhatsApp - Reprodução
Posts de Lucas Tartaglione em grupo de WhatsApp – Reprodução

Entre as evidências apresentadas por Tavares estão prints de conversas de grupos paralelos ao MBL, como “Resistência Supra MBL” e “Cabaré de Fascistas”, onde eram compartilhadas mensagens racistas e apologias ao nazismo. Alguns membros desses grupos também participavam oficialmente do MBL, incluindo Bento Junior, que foi expulso do programa “Academia MBL” após as denúncias.

Procurados pelo Intercept, o MBL e Kim Kataguiri não responderam aos questionamentos. Em e-mail, Tartaglione negou defender ideias extremistas, argumentando que suas declarações foram mal interpretadas.

Willian Tavares concluiu afirmando que sua saída foi motivada pela falta de ação do movimento diante das ameaças e do avanço de ideologias extremistas. Ele também relatou preocupação com a segurança de membros que tentaram enfrentar tais situações.

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