Tolerando a intolerância: Cármen Lúcia é uma versão piorada de Marina Silva. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 4 de novembro de 2017 às 18:54
Cármen Silva, mas pode chamar de Marina Lúcia

Cármen Lúcia é uma emanação de Marina Silva.

Onde ela precisa ter pulso, não tem. Sua intervenção tímida, maternal, no barraco entre Barroso e Gilmar foi vergonhosa.

O deboche com Dilma, quando a petista já estava no chão em agosto do ano passado, dizendo que não queria ser chamada de “presidenta” do STF, foi de uma covardia atroz.

Como Marina, Cármen engana alguns desavisados com uma postura de primeira voz do coro da igreja, a prolixidade e o talento para o passivo agressivo.

No vocabulário, o marinismo de Carminha se manifestou no voto decisivo que liberou Aécio Neves de sanções pelo flagrante das malas cheias de dinheiro — confuso e cheio de idas de vindas.

Agora volta a dar o ar da graça na negação do pedido da Advocacia Geral da União para permitir ao MEC dar nota zero a redações do Enem com teor considerado ofensivo aos direitos humanos.

Cármen trouxe para a sala o bode do fascismo como se fosse um gatinho com um blablablá pedestre.

A ação original foi apresentada no ano passado pela Escola sem Partido, cuja porta voz é uma tal Bia Kicis, ex-sócia dos saudosos Revoltados On Line. 

Segundo o grupo, o critério de correção ofende o direito “à livre manifestação do pensamento, a liberdade de consciência e de crença e os princípios do pluralismo de ideias, impessoalidade e neutralidade política, ideológica e religiosa do Estado, todos garantidos pela Constituição”.

Na decisão acaciana, Cármen lembra que “não se combate a intolerância social com maior intolerância estatal. Sensibiliza-se para os direitos humanos com maior solidariedade até com os erros pouco humanos, não com mordaça”.

Noves fora o insuportável clichê da “mordaça”, termo que ela já utilizou algumas vezes em outras ocasiões, Cármen parece viver na Finlândia e não num pântano alimentado por discursos de ódio da extrema direita sem qualquer limite.

O filósofo Karl Popper formulou o famoso paradoxo da tolerância: “Nós devemos declarar, em nome da tolerância, o direito de não tolerar o intolerante.”

Segundo Popper, “a sociedade tem um direito razoável de auto-preservação”. É isso.

A questão é que preservação que interessa ao Supremo Tribunal Federal não é necessariamente a da democracia, do estado de direito e muito menos dos garotos e garotas que farão o Enem.