Top of Mind da Folha esconde o varejo quebrado e suas falcatruas. Por Moisés Mendes

Atualizado em 3 de novembro de 2023 às 21:59
Premiação “Folha Top of Mind” 2023. (Foto: Reprodução)

A Folha Top of Mind tentou escapar de uma arapuca tenebrosa ao ouvir os brasileiros sobre as marcas mais lembradas. Não há destaque para o varejo no seu mais amplo sentido de loja que vende de tudo um pouco.

Há destaques em banco, saúde, bebidas, alimentação, transporte. Tem até, acreditem, as marcas campeãs em creme hidradante, esmalte, alívio de azia e má digestão e linguiça calabresa.

Mas não há, como em qualquer pesquisa do gênero, a pergunta óbvia: qual é a sua rede de varejo?

Brasileiros realizam compras em comércio popular. (Foto: Reprodução)

A relação mais próxima e de maior fidelidade de um consumidor é com o varejo, com a loja que o atende, mesmo que seja hoje no sistema virtual.

Consumidor não tem contato direto com o fabricante do esmalte, mas tem com a loja que vende esmalte, celular, geladeira, bicicleta. A pesquisa do Datafolha decidiu adotar uma definição genérica, que chamou de Compras, para fugir da armadilha. Por que, se tudo que se consome é comprado?

No grande guarda-chuva das compras há até a categoria atacado. Mas não há varejo. Há site de compras. Por que há destaque para atacado e não há para varejo?

A Folha escapou de ter que estampar manchetes sobre a área do varejo com nomes de grandes grupos envolvidos em todo tipo de falcatrua.

Não só as redes quebradas, mas protagonistas de manchetes sobre fraudes contábeis e outros rolos.

Se consultasse os brasileiros sobre varejo em geral, a Folha teria de destacar, como vem destacando em outras áreas da pesquisa, os nomes de redes populares que já tiveram controladores investigados e processados por sonegação, lavagem de dinheiro e contrabando.

Mas esse é o capitalismo brasileiro. O maior jornal do país decide saber quais são as marcas mais lembradas e esconde aquilo que mais está presente na memória das pessoas, que são as lojas que elas frequentam.

A Folha foi esperta ao esconder numa categoria genérica de Compras um vasto grupo de marcas desqualificadas por quebradeiras, desmandos e crimes graves.

(Para encerrar: por que a pesquisa tem até a categoria faca para churrasco e não tem livrarias? Pelo mesmo motivo que levou a esconder o varejo? Só faltou ter a categoria melhor periquito.)

Publicado originalmente em Blog do Moisés Mendes

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