Torcida antifascista reage à manifestação de palmeirenses bolsonaristas que atacaram corintianos

Atualizado em 26 de maio de 2020 às 19:15
Palmeirenses fascistas. Foto: reprodução do Facebook

No Sul, gremistas e colorados estavam juntos na brigada antifascismo que obrigou bolsonaristas a recuar no protesto insano destes pela morte e a favor do coronavírus.

Em São Paulo, corintianos já tinham dado o exemplo com a ida à Paulista no dia e horário em que os bolsonaristas realizariam  ato a favor de Bolsonaro.

Agora, pode surgir uma ação conjunta destes com torcedores do clube rival, o Palmeiras, torcedores que também são comprometidos com a defesa da democracia.

O que motivou a ideia de união de forças foi a foto provocativa publicada por um cidadão que se diz palmeirense e usou camisetas do clube para ameaçar os corintianos.

Alertado de que o Ministério Público poderia atuar e, inclusive, pedir sua prisão preventiva, o rapaz recuou e veio à torna sua ligação com um vereador de São Paulo que chegou à chefia de gabinete da presidência da Câmara na gestão de Antônio Carlos Rodrigues, o Carlinhos, que sempre exibiu em suas campanhas fotos com dirigentes da Mancha Verde, a maior torcida do Palmeiras.

Carlinhos, é preciso registrar, é um dos líderes do PR, o Partido de Valdemar da Costa Neto, que se transformou em um pilar do governo Bolsonaro, ao ceder parlamentares numa negociação não republicana com o chefe do Poder Executivo.

Sob o risco de prisão e alertado de que não poderia usar o nome da Mancha Verde nem do Palmeiras, o palmeirense bolsonarista recuou e publicou um novo comunicado, para dizer que não queria briga com corintianos e que não é extremista.

Não?

Em sua postagem ameaçadora, o cidadão usou o slogan dos integralistas como Eduardo Fauzi, aquele que praticou atentado contra o Porta dos Fundos e fugiu para a Rússia: Deus, Pátria e Família.

“Reitero a negativa da veracidade das informações, apenas nos manifestamos de forma democrática e amigável, discordando das medidas vigentes e sem cunho de violência, tampouco vinculada à qualquer torcida organizada”, escreveu.

Não pode ser considerada pacífica uma manifestação em que o autor diz: “Odiamos gamba, estamos esperando vocês”.

Antes disso, o Palmeiras Antifascista reagiu com um manifesto que repercutiu nas redes sociais:

ALERTA, ALERTA, ALERTA ANTIFASCISTA
Sabemos que na nossa torcida existem nazistas, fascistas e simpatizantes de regimes totalitários. Mesmo sabendo das nossas origens proletárias, essas pessoas se sentem à vontade para se expressar livremente com a camisa do nosso time. Foi por conta disso que esse coletivo foi criado, nunca negamos que os nossos inimigos também são internos. Hoje vieram à tona nas redes mais fotos desses nazis e fachos em manifestação da extrema direita contra o isolamento.
Não é só defender o atual governo, que já se mostrou contra as torcidas, intolerante, chamou os refugiados de escória do mundo, é racista, odeia mulheres e LGBTs: colocam a saúde dos outros em risco pra defender pilantra, sendo que os que mais estão sendo afetados por esse vírus são os mais pobres, a classe operária. Justamente os que constituem a maioria das torcidas!
Sabemos que seus eleitores estão em todas as torcidas. A pergunta é: a MV compactua com isso? Acha normal que esses vermes saiam por aí com os panos do clube defendendo nazi e colocando a vida das pessoas em risco? Sabemos que muita gente dessa foto é ligada à MV, aí fica a pergunta: Quando a MV coloca em seu estatuto que não discute política, o que estão fazendo posando pra foto, em ato político, defendendo um governo genocida?
Mesmo não acreditando na política tradicional, o que faz o assessor de um parlamentar nessa foto? O que ele acha que representa, a quem ele está à serviço?
Para que saiam na rua pouco se importando com a classe trabalhadora e defendendo a burguesia?
P16

MV é a abreviação de Mancha Verde.

É bom que as torcidas tenham acordado e não permitam que floresça em seu seio a semente do fascismo. Futebol é a expressão de um movimento democrático, em que os 11 em campo são representantes legítimos daqueles que estão na arquibancada.

A origem do Corinthians é o futebol de várzea, o que explica sua imensa torcida nas classes populares. O Palmeiras teve origem entre os imigrantes que trabalhavam nas indústrias de São Paulo.

Em nome destes, os torcedores jamais devem ceder à tentação de apoiar um governo antidemocrático como o que temos hoje no Brasil.

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Atualização: A liderança do Coletivo Democracia Corintiana entrou em contato para dizer que a organização do ato na Paulista em oposição aos fascistas não foi da entidade. E de fato não foi. Estavam na Paulista integrantes de diferentes grupos de corintianos, incluindo expoentes da Gaviões da Fiel. O Democracia Corintiana já realizou pelo menos uma ação conjunta com integrantes da torcida rival, o Porcomuna, por ocasião de um ato pela liberdade de Lula, na Paulista. Houve até uma partida de futebol no asfalto.

 

Joaquim de Carvalho
Jornalista, com passagem pela Veja, Jornal Nacional, entre outros. joaquimgilfilho@gmail.com