Trabalhérias

Atualizado em 15 de agosto de 2011 às 21:36
Nas minhas folgas, o jornalista some e aparece o guitarrista

Falei outro dia do esforço de países asiáticos para mudar a cultura de trabalho, trabalho e ainda trabalho que domina as pessoas.

Essa cultura, afirmam empresas e autoridades locais, é uma relíquia da Era Industrial, em que a eficiência corporativa estava muitas vezes conectada a procedimentos que demandavam trabalho continuado e maciço, e não a inovação que só um regime flexível consegue estimular.

Na mesma linha, há algum tempo a Netflix, colosso americano do aluguel de dvds que transformou a Blockbuster numa peça de museu, decidiu facultar a seus funcionários o gozo de férias. Não existe controle, na Netflix, das férias dos funcionários. “O que cobramos é desempenho, não o número de horas em que alguém fica acorrentado a sua cadeira”, disse um dos fundadores da Netflix. Também ali a justificativa para a mudança é que processos corporativos como controle de férias são obsolescências da falecida Era Industrial.

Apenas para efeitos comparativos. O americano tira, em média, 10 dias de férias por ano. Na Netflix, esse número sobe para 25. Isso quer dizer que os empregados se aproveitam da liberalidade da empresa.

Há consenso em torno desse tipo de coisa?

Nem tanto. Eis que topo com um artigo de uma jornalista do Financial Times que vai na direção contrária. Ele diz que está gozando, neste verão inglês, de agradáveis “worlidays”. É uma junção de work, trabalho, e holidays, férias. Em português, seria mais ou menos trabalhérias. A tecnologia, conta a jornalista, permite que você possa aproveitar uma manhã de sol na praia e à tarde, no conforto de uma varanda ensombrecida e tépida, tocar suas tarefas.

Trabalhérias?

Não é apenas uma palavra feia. Horrível. Pior que a forma é o significado.

Minha convicção é que o mundo caminha para a direção apontada pela Coréia do Sul e pela Netflix. Misturar trabalho com férias é extremamente indigesto. Fico aqui com uma empresa sul-coreana que, para evitar isso, decidiu bloquear o acesso de seus empregados em férias ao sistema de computação corporativa.