Transfobia é crime e radfem não é feminismo. Por Luiza Coppieters

Atualizado em 17 de abril de 2021 às 18:17
MC Trans rindo diante das barbaridades transfóbicas que ouve em “debate” / Internet

Circula na internet um vídeo em que colocam uma mulher trans e uma radfem para debater. Para quem não conhece, radfem é a abreviação de feminismo radical, uma espécie de seita entre certo grupo de mulheres cisgêneras, costumeiramente jovens, brancas e de classe média, que odeiam mulheres trans e travestis.

Elas se identificam como feministas e concebem o mundo como dividido entre machos e fêmeas. Atuam politicamente ao lado de setores da ultradireita, seja ela religiosa, seja em grupos do submundo da internet, cujo objetivo é perseguir mulheres trans, assim como acabar com os poucos direitos conquistados por esse grupo.

Nos EUA, estiveram ligadas ao governo Trump para reverter as políticas de uso do banheiro e acesso ao serviço militar.

O vídeo promovido por um canal de direita, deixa claro como o Sol, que a discussão circula em torno dos preconceitos do radfem contra pessoas trans. Não há nada de feminismo por parte desse grupo, ao contrário das lutas das mulheres trans e LGBTQ – movimento ao qual as radfem são contra.

Cabe salientar que vem se construindo um movimento internacional autointitulado LGB, que procura reunir pessoas transfóbicas mas que sejam homossexuais ou bissexuais para perseguir pessoas trans. Interessante também que até pouco tempo as radfem perseguiam mulheres bissexuais, chamando-as de “depositório de porra” entre outras barbaridades.

Aliás, elas defendem a ideia de “lesbianismo político”, isto é, que se tome a posição política de ser lésbica, independente de desejo e tudo mais que envolva o ser humano. Isso porque, para as radfem, “todo homem é um estuprador”. Sim, esse grupo, que se reivindica como vertente feminista, considera isso um axioma.

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Em alguns dos trechos do vídeo que circulam nas redes, a jovem considera que mulheres trans não deveriam usar o banheiro feminino. Qualquer semelhança com discursos fundamentalistas religiosos não é mera coincidência.

Esse discurso, além de distorcer o real significado do estupro, que é uma relação de poder e que acontece em qualquer lugar, mas principalmente no interior das famílias e praticado por familiares (pais, padrastos, cunhados, irmãos etc), marginaliza e criminaliza ainda mais um grupo social que já é estigmatizado, perseguido e vulnerável.

Como é notório no caso Brasil, este é o país que mais mata mulheres trans e travestis no mundo, e brutalmente. Além de ser um dos países que mais consome pornografia com esse grupo de pessoas. Contradição nada mais natural num país machista e transfóbico.

Por fim, cabe salientar que não há casos de estupro em banheiros femininos realizados por mulheres trans ou travestis. Talvez exista casos isolados no mundo. Assim como há casos isolados de mulheres que violentam meninas. Se quiserem conhecer alguns casos, basta clicar aqui e aqui.

Ou seja, estupro não é fruto de uma determinação biológica que acontece necessariamente em banheiros femininos, mas fruto de processos históricos e subjetivos, que acontecem em sociedades realizados por sujeitos em relações de poder.

E o que esse grupo autoidentificado como radfem, que nada tem de radical nem de feminista, busca é poder. Caminha aliado com a luta iniciada pela direita da Igreja Católica que nos anos 90 inventou a tal “ideologia de genênero” para barrar os avanços e conquistas das mulheres, sejam elas cis ou trans, a libertação sexual, a autonomia em relação aos seus corpos e a conquista de espaços políticos.

Para elas, mulheres são apenas vítimas e seres indefesos, incapazes de pensar e agir autonomamente e enfrentar as opressões e exploração de classe – a qual negam ao colocar o debate entre macho e fêmea e não entre classe trabalhadora e burguesia.

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Não somos macho ou fêmea, somos seres humanos que pensam, sentem, falam, desejam, agem, trabalham e transformam o mundo, de modo simbólico. Somos seres que produzimos a História, por isso a transformamos, de modo que podemos combater a cultura do estupro com educação e com o fim da desigualdade.

Não é algo inscrito no DNA das pessoas, não é um determinismo biológico que rege a conduta das pessoas, caso contrário, ninguém poderia ser responsabilizado pelo que faz. Por isso, assim como não cabe transfobia não cabe distorcer o que é estupro.

Confira abaixo alguns trechos do “debate”: