Transigir com os crimes de Bolsonaro é manter a democracia ameaçada. Por Luis Felipe Miguel

Atualizado em 23 de fevereiro de 2023 às 23:43
O presidente Jair Bolsonaro (PL) e militares. Foto: Reprodução

Só agora vi Argentina, 1985, o elogiado filme sobre o julgamento dos ditadores. Um bom filme de tribunal, com excelentes atuações, impactante na exibição do horror da ditadura e com uma veia cômica na dose certa.

E a alegria de ver o general Videla indo para a cadeia já vale o filme.

A redemocratização argentina deu centralidade ao tema dos crimes da ditadura. Levou os responsáveis aos tribunais. Ainda que as sentenças não tenham sido o que se esperava e que acertos posteriores tenham obstruído a justiça, muitos deles foram punidos. O significado político disso é enorme.

No Brasil, fizemos o contrário. Fingimos que nada tinha acontecido e nos curvamos a cada vez que os militares ladravam. Em pleno regime democrático, deixamos que as Forças Armadas permanecessem autoritárias, violentas e corruptas.

Cena do filme “Argentina, 1985”
Foto: Reprodução

A impunidade cobrou seu preço, como estamos vendo.

Não dá para repetir o mesmo erro. Transigir com os crimes de Bolsonaro e de seus muitos cúmplices (vários deles militares) é manter nossa democracia sob permanente ameaça.

Não se trata de vingança. Trata-se de justiça.

E não se trata do passado, mas do futuro. Sem que a justiça seja feita, não conseguiremos construir o país com que sonhamos.

Publicado originalmente no Facebook do autor

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Luís Felipe Miguel
Professor de ciência política da Universidade de Brasília (UnB) e coordenador do Demodê - Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Desigualdades.