Treinamento do Exército em Ilhabela, com tiros simulando reação a uma situação de enfrentamento, assusta moradores

Atualizado em 23 de maio de 2019 às 20:35

Na semana que antecede duas manifestações, o Exército marcou presença em Ilhabela, no litoral norte de São. Na madrugada desta quinta-feira, moradores ouviram vários disparos.

Segundo relato publicado pelo jornal O Vale, durante a manhã foram encontradas muitas cápsulas de fuzil.

Imagens enviadas por um morador ao DCM mostram o deslocamento de tropas pelas rua da cidade, conhecida nacionalmente pelo turismo.  Veja o vídeo abaixo.

De acordo com os moradores, o som de disparos teve início às 5h da manhã e a ação não foi comunicada à população.

Texto distribuído pela prefeitura informou que estavam previstas operações para os dias 20 e 21, mas nada fala sobre o tiroteio ocorrido de madrugada desta quinta-feira. Os tiros, segundo O Vale, foram com balas de festim.

“As Forças-tarefas integrantes da 12ª Brigada de Infantaria Leve (Aeromóvel), ao longo dos dias 20 e 21 de maio, cumpriram diversas missões inseridas no contexto da Operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), de acordo com o previsto no artigo 142 da Constituição Federal de 1988, da Lei Complementar nº 97/1999 e do Decreto nº 3.897/2001, no Litoral Norte”, assinala a assessoria de imprensa da prefeitura de Ilhabela, que tem passado por momentos de turbulência polícia, com a cassação do prefeito.

“No contexto do exercício, as ações desenvolvidas buscam restabelecer a ordem e a paz social, restaurar a situação de normalidade da segurança pública local atuando na diminuição dos índices de criminalidades e na prevenção da ocorrência de diversos delitos”, acrescenta.

Os moradores manifestaram preocupação através da rede social.

“Acordamos essa hora com o maior tiroteio. Cachorros latindo, crianças chorando, eu cheguei a ficar tremendo. Podiam ter avisado a população que isso aconteceria”, disse uma moradora. 

“Estou indignada, acordei às 5h com o som de um tiroteio, coração acelerado, desesperada acordei meu marido, acordei minhas filhas, nós nos juntamos num canto e começamos a orar. Não sabíamos o que estava acontecendo, mas coloquei no Facebook e logo muitas pessoas começaram a confirmar, era mesmo uma simulação de tiroteio” disse outra moradora.

O porta-voz da operação, major Anderson Yuri Rodrigues, explicou que a operação simulou a reação do Exército a um enfrentamento.

“Os militares sem fardas simulavam a reação contrária ao Exercito. Por isso, a troca de tiros. Cabe ressaltar que os tiros executados foram tiros de festim. Simulando o enfrentamento. O Exercício foi finalizado com pleno êxito. Após finalizado o exercício a tropa está retornado às suas sedes de origem no Vale do Paraíba”, afirmou o major.

Os militares têm feito blitz na entrada da cidade, no trânsito, parando carros e motos e pedindo documentos – típico trabalho policial, não militar.

Houve um treinamento de assalto, em que os soldados invadiram o morro dos Mineiros, as 5h da manhã, ainda escuro disparando tiros pelas ruas e aterrorizado os moradores.

Ocorrem também blitz com 20 soldados armados com fuzis e jipe com metralhadora com militares em posição de tiro, bloqueando o trânsito (na praia do Sino), fazendo as pessoas descerem dos carros para serem registradas, bem como os carros.

No posto de saúde do Perequê, postou-se a porta uma soldada uniformizada (e aparentemente não armada), fazendo a guarda uma viatura da PM.

Um exercício desse tipo, às vésperas da manifestação convocada por bolsonaristas para domingo e do protesto dos estudantes organizado para o dia 30, quinta-feira da semana que vem, pode ser interpretado como demonstração de força e também como treinamento para eventuais distúrbios.

Não é isso o que o Exército diz, mas é bom lembrar que, em 1992, na véspera da abertura do processo de impeachment de Fernando Collor, o Exército também foi às ruas. Só que na cidade de São Paulo. E mantiveram blindados com homens armados em esquinas movimentadas da capital.

A abertura do processo de impeachment foi aprovada, e não houve nenhum distúrbio.

Pode ser só coincidência a presença do Exército em Ilhabela neste momento, mas, sem dúvida, é intrigante.

Joaquim de Carvalho
Jornalista, com passagem pela Veja, Jornal Nacional, entre outros. joaquimgilfilho@gmail.com