Em apenas nove meses de governo, o presidente Donald Trump já colocou em prática 47% do chamado Projeto 2025, segundo levantamento do Centro para a Reforma Progressista, nos Estados Unidos. O plano, elaborado pela Fundação Heritage e por mais de 350 lideranças conservadoras, defende a centralização de poder na Presidência, o fim de políticas ambientais e inclusivas e o combate à agenda “woke”, que inclui pautas de diversidade e direitos LGBTQIA+.
O documento que orienta a iniciativa, intitulado “Mandate for Leadership” e lançado em 2023, reúne 532 propostas para consolidar uma agenda de governo ultraconservadora. Desde que assumiu o novo mandato, em janeiro, Trump já iniciou ou concluiu 251 dessas ações, uma média de uma medida por dia. A implementação é liderada pelo Escritório de Gestão e Orçamento, chefiado por Russell Vought, um dos principais idealizadores do projeto e considerado hoje um dos homens mais poderosos do governo.
Entre as medidas adotadas estão deportações em massa de imigrantes, inclusive em locais antes protegidos como escolas e igrejas, perseguições a adversários políticos, e ordens executivas que substituem o papel do Congresso em temas econômicos e de segurança. Trump também revogou políticas ambientais, retirou os EUA do Acordo de Paris, incentivou a exploração de petróleo e extinguiu programas de diversidade e inclusão. Especialistas afirmam que essas ações configuram uma erosão institucional sem precedentes.
De acordo com o diretor de políticas do Centro para a Reforma Progressista, James Goodwin, a velocidade de execução mostra “como é frágil o sistema de freios e contrapesos dos Estados Unidos”. Ele afirma que Trump usa atalhos legais e administrativos para concentrar poder e enfraquecer a supervisão do Congresso. “É muito difícil responsabilizar alguém que não age de boa-fé. Trump tem explorado isso impiedosamente”, disse.
O cientista político Uriã Fancelli avalia que o Projeto 2025 funciona como “a espinha dorsal do governo Trump”, transformando as instituições públicas em instrumentos de perseguição e controle político. Segundo ele, o país corre o risco de entrar em um processo que vai “além da erosão democrática, caminhando para um colapso institucional”. A estratégia de Trump e Vought, afirma, é reconstruir o Estado sob lógica partidária e autoritária.
No cenário internacional, analistas alertam que o avanço da agenda ultraconservadora abala a credibilidade dos EUA como democracia liberal. Goodwin afirma que a concentração de poder na figura de Trump e as políticas protecionistas, como novas tarifas comerciais, afetam a confiança de aliados históricos, incluindo o Brasil. “Quando um país deixa de respeitar suas próprias instituições, perde legitimidade no palco global”, afirmou.