“Trump age como mafioso para quebrar o Brasil”, diz ex-chanceler

Atualizado em 28 de julho de 2025 às 16:04
Aloysio Nunes, ex-chanceler do Brasil. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O ex-chanceler Aloysio Nunes afirmou que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tenta enfraquecer deliberadamente o Brasil por meio do chamado tarifaço, como forma de ampliar a influência de seu país sobre a América Latina. Em entrevista ao Uol, Nunes classificou a postura do republicano como autocrática e comparou sua estratégia comercial à de um mafioso.

“Eu tive uma experiência, ainda que limitada, com aumento de tarifas de importação de produtos siderúrgicos. No primeiro mandato dele, Trump impôs uma tarifa de 25%. Naquele momento, fizemos algo que o governo brasileiro está tentando agora: colocar em contato empresários americanos e brasileiros e tentar uma pressão política conjunta. Não conseguimos eliminar a tarifa, mas cotas de exportação mais baixas”, relatou Nunes, que chefiou o Itamaraty durante o governo do ex-presidente Michel Temer (MDB).

O ex-ministro relembrou que, naquela época, havia algum grau de previsibilidade e diálogo institucional. Segundo ele, o cenário atual é diferente e mais grave.

“Isso foi no primeiro governo de Trump, quando a conjuntura política que o cercava era muito diferente de hoje. Havia o mínimo de racionalidade política e econômica, algo que não há mais hoje com a autocracia personalizada em Trump. Tudo se passa no Salão Oval, nada fora dele”.

A avaliação de Nunes é de que as atuais sanções propostas por Trump, como a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, têm um claro componente político, que vai além da retórica em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro, acusado de tentativa de golpe no Brasil.

“A situação agora é diferente. Há um componente político que afeta bastante o Brasil e a União Europeia. Trump nunca escondeu seu desprezo pela UE e o desejo de enfraquecê-la politicamente. Ele tem esse mesmo desejo em relação ao Brasil, e não só no caso do Bolsonaro, que foi colocado em primeiro plano”, explicou o ex-chanceler.

Na visão do diplomata, o alvo real de Trump é a autonomia do Brasil no cenário internacional. “Ele quer enfraquecer uma política independente naquilo que considera como seu quintal, dada a relevância econômica do Brasil e com forte presença internacional. Não podemos aceitar isso. Há um componente político que vai além do apreço dele, real ou fictício, ao Bolsonaro. Trump quer quebrar a espinha do Brasil, essa que é a verdade”.

Aloysio comparou a conduta de Trump à de um extorsionário e criticou a eficácia da tática de intimidação adotada por ele nas relações internacionais. “Trump age como o mafioso que quer comprar uma loja de alguém que não está querendo ceder ao preço que ele oferece. Ele joga uma bomba e depois diz ‘vamos negociar’ para tentar obter um preço menor. É o que aconteceu agora com a Europa”.

Segundo ele, esse comportamento tem trazido resultados ao presidente dos EUA. “O fato é que ele tem conseguido ganhar essa guerra comercial com esse método da chantagem. Um a um, os países que são alvo dele estão chegando para fazer um acordo em que tentam preservar os dedos, quando os anéis já foram embora”.

Augusto de Sousa
Augusto de Sousa, 31 anos. É formado em jornalismo e atua como repórter do DCM desde de 2023. Andreense, apaixonado por futebol, frequentador assíduo de estádios e tem sempre um trocadilho de qualidade duvidosa na ponta da língua.