Trump ainda pode perder, menos mal. Mas a estupidez venceu. Por Fernando Brito

Atualizado em 4 de novembro de 2020 às 13:32

Originalmente publicado em TIJOLAÇO

Por Fernando Brito

É incerto o vencedor formal da eleição norte-americana e, neste momento, a balança pende em favor de Donald Trump. Pode ser que os votos remanescentes, especialmente os dados por via postal acabem por determinar uma vitória de Biden em estados que ainda estão indefinidos, vários com tendência favorável ao atual presidente.

Como nos campeonatos de futebol, quando a gente tem de fazer muita conta e enfileirar uma fieira de “se”, a situação é muito difícil. Com o deformado e complicado sistema eleitoral dos EUA e a estrondosa votação via Correio, boa parte já contada mas com muito a se totalizado, é impossível ter uma previsão responsável.

Ganhe ou perca Trump, porém, o extremismo selvagem e estúpido representado por ele colheu, tem-se de admitir, uma enorme vitória, mesmo que vá ter cerca de três milhões de votos a menos – ou perto de 2% de desvantagem, como na primeira vez que se elegeu.

Porque esta vitória se dá em meio à maior desgraça humanitária vivida pelos Estados Unidos, que chega hoje ou amanhã à terrível marca de 240 mil mortos na pandemia do novo coronavírus e com o imenso desemprego que ela gerou.

E tudo foi tratado com charlatanismo, grosserias, impiedade, brutalidade.

Ainda assim, o resultado premiou a besta humana que está no poder nos EUA, porque é só este qualificativo que merece quem não dialoga, grita, xinga, desqualifica, debocha, acusa sem provas, discrimina seres humanos, separa filhos pequenos de seus pais e “cancela” seres humanos com seu “you’re fired” .

Sim, a votação de Donald Trump legitima a estupidez, porque faz dela algo socialmente aceito, tão inocente quanto “um jeito de ser” ou, ainda pior, algo que se esconde sob a aparência do politicamente correto no contato pessoal mas que exsurge no que fazemos na solidão, como usar as redes ou assinalar um voto.

Verdade que contra ele se apresentou um candidato ao estilo “macarrão sem sal e sem molho”. Verdade também que os ditos movimentos identitários despertaram, como na velha lei de Newton, reação igual e contrária. Biden perdeu em Kenosha, cidade de Wisconsin que ficou mundialmente conhecida com os protestos contra o fuzilamento pela polícia de Jacob Blake, um homem negro, desarmado.

Mas nem uma coisa nem outra são razões bastantes para explicar a ressurreição do que julgávamos sepultado há décadas: o autoritarismo e o orgulho da ignorância.

Resta a esperança que, com os votos postais que faltam, Biden vença a eleição formal. Menos mal, mas não é uma solução..

Mas vivemos tempos terríveis e o século 21 começa, sim, com décadas de horror anti-humanista. Que, suspeito, ainda vai se tornar mais assustadora.