
O presidente dos EUA Donald Trump disse na quinta-feira (18) que agências reguladoras deveriam considerar revogar as licenças de emissoras que exibem cobertura negativa sobre ele. A fala ocorreu a bordo do Air Force One durante o retorno de uma visita ao Reino Unido.
Trump chamou as redes de TV de “braço do Partido Democrata” e afirmou: “Li em algum lugar que as redes foram 97% contra mim, recebo 97% de negativo, e ainda assim venci. Eu penso que talvez a licença delas devesse ser retirada.”
A declaração amplia uma ofensiva coordenada do governo para silenciar críticas após o assassinato do ativista de extrema-direita Charlie Kirk. A Casa Branca sinalizou medidas para mirar isenção fiscal de grupos liberais, monitorar discurso online, negar vistos e até rotular determinados movimentos como terroristas domésticos.
Na quarta-feira, a ABC tirou o “Jimmy Kimmel Live!” do ar “por tempo indeterminado” depois de o presidente da FCC (Federal Communications Commission, comissão reguladora independente que licencia rádio e TV nos EUA) Brendan Carr pressionar a emissora por comentários do apresentador sobre a morte de Kirk.
Na quinta, Trump disse que Carr deveria ir além e escrutinar as licenças das TVs locais que transmitem a programação das grandes redes, alegando que tanto o jornalismo quanto os programas de humor noturno seriam “injustos” com ele. Brendan Carr é “patriota” e “durão”, afirmou.
Em entrevistas, Carr afirmou à Fox News (canal de notícias por assinatura dos EUA) que a retirada do programa do ar “não foi a última medida” e disse à CNBC (Consumer News and Business Channel, canal de notícias de negócios dos EUA) que manter uma licença de radiodifusão “é um privilégio que vem com a obrigação de servir ao interesse público”.
Pelo marco legal, a FCC pode revogar licenças por “interesse público”. Se seguisse a proposta de Trump e cassasse licenças por conteúdo crítico ao presidente, a agência enfrentaria desafios baseados na Primeira Emenda (cláusula da Constituição dos EUA que diviniza a liberdade de expressão).
Agora, segundo o próprio governo, medidas visam reprimir “discurso de ódio” que incitaria violência. Democratas e entidades de direitos civis veem censura de pontos de vista. Trump e assessores próximos — como o vice-presidente JD Vance, a procuradora-geral Pam Bondi e Stephen Miller, vice-chefe de gabinete da Casa Branca — passaram a apontar opositores que teriam “celebrado” a morte de Kirk como prova de uma rede de esquerda que financia e incita violência. O presidente culpou a “esquerda radical” pela violência política e minimizou extremistas de direita.
Trump: When you have a network and you have evening shows and all they do is hit Trump… They’re licensed. They’re not allowed to do that. pic.twitter.com/kSsqkmWZBU
— Acyn (@Acyn) September 18, 2025
Questionado sobre liberdade de expressão, Trump disse que Jimmy Kimmel “foi demitido por baixa audiência” e por ter dito “algo horrível”. “Você pode chamar isso de liberdade de expressão ou não”, afirmou. Um grupo de democratas no Congresso anunciou um projeto para reforçar proteções legais a pessoas atacadas por Trump por se manifestarem. Líderes democratas na Câmara pediram a renúncia de Brendan Carr, chamando sua conduta de “abuso de poder” ao pressionar a ABC pelo programa de Kimmel.
O ex-presidente Barack Obama acusou a atual administração de hipocrisia. “Depois de anos reclamando da cultura do cancelamento, o governo levou isso a um nível perigoso ao ameaçar rotineiramente ações regulatórias contra empresas de mídia para que calem ou demitam jornalistas e comentaristas que não agradam”, escreveu, dizendo que esse tipo de “coerção governamental” é justamente o que a Primeira Emenda busca impedir.
Após Pam Bondi sugerir que o Departamento de Justiça poderia mirar “discurso de ódio”, o apresentador conservador Tucker Carlson disse em seu podcast esperar que a turbulência pós-assassinato de Kirk “não seja usada para trazer leis de discurso de ódio ao país”. Segundo ele, “se o governo pode dizer o que você pode falar, está dizendo o que você deve pensar”.
Trump chegou ao cargo prometendo “restaurar a liberdade de expressão e acabar com a censura federal”, incluindo uma ordem executiva que proibia servidores de “restringirem inconstitucionalmente” o discurso de cidadãos. O vice JD Vance chegou a se apresentar como defensor da liberdade de expressão para conservadores nos EUA e no exterior, inclusive criticando a tentativa de isolar partidos de extrema direita na Europa.
🚨 Trump on Kimmel: He was fired because he had bad ratings, more than anything else, and he said a horrible thing about a great gentleman known as Charlie Kirk… Jimmy Kimmel is not a talented person… and they should’ve fired him a long time ago.”pic.twitter.com/USD94132Eq
— Raylan Givens (@JewishWarrior13) September 18, 2025