
O Brasil acaba de sofrer um dos ataques mais traiçoeiros da nossa história recente. O presidente dos Estados Unidos anunciou tarifas monstruosas de 50% contra todos os produtos brasileiros, o que pode significar praticamente o embargo total do comércio entre os dois principais países das Américas.
A corrente de comércio entre Brasil e Estados Unidos nos últimos 12 meses (julho de 2024 a junho de 2025) foi de US$ 84,1 bilhões, o que representa 13,8% da corrente de comércio total do Brasil. Considerando apenas as exportações brasileiras, o Brasil exportou US$ 41,2 bilhões para os Estados Unidos nos últimos 12 meses, o que corresponde a 12,3% do total que o Brasil exportou no período.
Gráfico 1 – Corrente de comércio Brasil-EUA (2019-2025)

Como se pode ver, apesar do Brasil ter reduzido significativamente sua dependência dos Estados Unidos como destino de nossos produtos ao longo dos últimos anos, o mercado americano ainda é muito importante para o Brasil. A corrente de comércio bilateral oscilou entre US$ 54 bilhões em 2021 e US$ 84,1 bilhões em 2025.
Principais produtos exportados pelo Brasil para os EUA
Os principais produtos que o Brasil exporta para os Estados Unidos incluem óleos brutos de petróleo (US$ 5,1 bilhões), produtos semi-acabados de ferro e aço (US$ 3,8 bilhões), aeronaves e equipamentos (US$ 2,8 bilhões), café não torrado (US$ 2,2 bilhões), ferro-gusa e derivados (US$ 1,8 bilhões), óleos combustíveis (US$ 1,7 bilhões), celulose (US$ 1,5 bilhões), sucos de frutas (US$ 1,5 bilhões), carne bovina (US$ 1,4 bilhões) e equipamentos de engenharia civil (US$ 1,3 bilhão).
Nesses dois primeiros anos do atual governo (2023-2024), as exportações para os Estados Unidos e a corrente de comércio entre os países melhoraram. As exportações brasileiras aumentaram e o Brasil também comprou mais dos Estados Unidos. Esse tarifaço, por exemplo, vai prejudicar ambos os países, afetando tanto os exportadores americanos que vendem no mercado brasileiro quanto os exportadores brasileiros que vendem no mercado americano. É uma relação onde todos perdem.

Razões puramente políticas e pessoais
As razões alegadas são puramente políticas e, o que é pior, relacionadas à política interna doméstica brasileira. Trump está usando as prerrogativas de imposição de tarifas para tentar interferir numa questão totalmente doméstica sobre a qual ele não entende nada, não sabe nada e não tem nada a ver. É uma questão que o Brasil vai resolver internamente.
Primeiramente, isso demonstra uma grande traição da direita brasileira aos interesses econômicos nacionais do Brasil. Está configurado que a direita brasileira é antinacional, querendo usar uma questão puramente doméstica que podemos resolver internamente para provocar um embargo comercial que pode prejudicar a economia brasileira.
Porém, felizmente, o Brasil hoje não é o Brasil de antigamente. O Brasil hoje tem uma corrente de comércio com outros países muito diversificada. Os Estados Unidos, embora importantes, não representam uma dependência existencial para o Brasil. Nossa relação comercial é equilibrada – o Brasil na verdade tem déficit com os Estados Unidos, compramos mais produtos americanos do que vendemos para eles.

Quem vai perder são os Estados Unidos
O Brasil pode comprar esses produtos americanos em outros lugares. Portanto, quem vai perder serão os Estados Unidos, e vão perder duplamente. Em função dessa medida desproporcional, os americanos vão perder duplamente.
Primeiro, vão perder o mercado brasileiro, porque com essa tarifa contra produtos brasileiros, a tendência é o Brasil também reduzir suas compras dos Estados Unidos. Os americanos vão deixar de vender para o Brasil.
Segundo, os produtos brasileiros que iam para os Estados Unidos – produtos importantes que os americanos apreciam – também vão parar de ir ou ter sua oferta reduzida. Os consumidores americanos vão pagar por isso com preços mais altos e menor disponibilidade desses produtos.
Um ato de completa insanidade
Trata-se de mais um ato de completa insanidade de Trump. Esperamos que os operadores políticos e o empresariado americano tenham o mínimo de sensatez e dignidade para enfrentar isso, porque é evidente que uma medida dessas não interessa aos Estados Unidos. É uma loucura total e uma afronta ao direito comercial internacional.
O mais patético é que Trump iniciou esse tarifaço alegando déficits comerciais com outros países, mas agora passou a usar as tarifas simplesmente por razões puramente políticas e pessoais. Como ele mesmo declarou: “Eu tenho ótima relação com o Bolsonaro”. Mas o que isso tem a ver com o comércio entre dois países?
Dados do comércio bilateral
Corrente de Comércio Brasil-EUA (Acumulado 12 meses – julho a junho):
– 2019: US$ 63,7 bilhões
– 2020: US$ 58,9 bilhões
– 2021: US$ 54,0 bilhões
– 2022: US$ 83,4 bilhões
– 2023: US$ 82,9 bilhões
– 2024: US$ 76,7 bilhões
– 2025: US$ 84,1 bilhões
Saldo Comercial Brasil-EUA (Acumulado 12 meses – julho a junho):
– 2019: -US$ 3,1 bilhões
– 2020: -US$ 8,9 bilhões
– 2021: -US$ 4,4 bilhões
– 2022: -US$ 12,6 bilhões
– 2023: -US$ 8,9 bilhões
– 2024: +US$ 1,1 bilhão
– 2025: -US$ 1,7 bilhão
Participação dos EUA nas Exportações Brasileiras:
– 2019: 13,3%
– 2020: 11,7%
– 2021: 10,2%
– 2022: 11,5%
– 2023: 11,0%
– 2024: 11,4%
– 2025: 12,3%
Como demonstram os dados, o Brasil historicamente compra mais dos Estados Unidos do que vende para eles, caracterizando uma relação comercial equilibrada e mutuamente benéfica. As tarifas anunciadas por Trump representam não apenas um ataque ao Brasil, mas um tiro no próprio pé da economia americana.