Trump avalia atacar “instalações” inexistentes de cocaína na Venezuela

Atualizado em 25 de outubro de 2025 às 15:36
O USS Gerald R. Ford, maior porta-aviões do mundo, enviado ao Caribe

O presidente Donald Trump está considerando autorizar ataques contra instalações de produção e rotas de tráfico de cocaína dentro da Venezuela, segundo três autoridades norte-americanas ouvidas pela CNN. Embora ainda não tenha tomado uma decisão, o movimento é visto internamente como um possível passo rumo a uma nova escalada militar na região. Fontes do governo afirmam que há planos prontos sobre a mesa e que o presidente avalia diferentes opções, incluindo ações diretas contra alvos venezuelanos.

Na sexta-feira, o secretário de Defesa, Pete Hegseth, ordenou o deslocamento do grupo de ataque do porta-aviões USS Gerald R. Ford, o maior do mundo, para o Caribe. A operação envolve também submarinos, destróieres e aviões F-35, como parte do aumento de presença militar dos EUA sob o comando do United States Southern Command. Paralelamente, a CIA recebeu autorização para conduzir operações secretas na Venezuela, em meio à intensificação da campanha estadunidense contra o governo de Nicolás Maduro.

Apesar da mobilização, assessores de Trump disseram que ele ainda considera uma via diplomática para conter o fluxo de drogas, embora as conversas com Maduro tenham sido suspensas recentemente. Um dos conselheiros afirmou que “há planos na mesa que o presidente está avaliando”, mas que ele “não descartou a diplomacia”. Outro integrante da Casa Branca explicou que as propostas variam entre pressões econômicas e ações cirúrgicas, com o objetivo declarado de enfraquecer o regime de Caracas.

Nos bastidores, parte do governo defende que uma campanha militar ligada ao combate ao tráfico possa acelerar a queda de Maduro, ao atingir pessoas próximas ao presidente venezuelano que se beneficiam do narcotráfico. No entanto, segundo a ONU e o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), a Venezuela não é produtora de cocaína. A maior parte das plantações de coca está na Colômbia, Peru e Bolívia, e o relatório anual da DEA de 2024 sequer cita a Venezuela entre as principais rotas do comércio ilegal da droga.

Ainda assim, Washington mantém a acusação de que parte do tráfico internacional passa pelo território venezuelano. O governo Trump frequentemente lembra que Maduro foi indiciado em 2020 por “narcoterrorismo” e conspiração para importar cocaína. “Nicolás Maduro é um traficante de drogas indiciado nos Estados Unidos e um fugitivo da Justiça estadunidense”, disse o secretário de Estado Marco Rubio durante visita ao Equador, em setembro.

Trump também afirmou à CNN que poderia ordenar ataques contra traficantes no exterior sem precisar de uma declaração formal de guerra aprovada pelo Congresso. “Não vou necessariamente pedir uma declaração de guerra. Vamos matar pessoas que estão trazendo drogas para o nosso país”, disse. Segundo fontes do Pentágono, o envio de tropas e equipamentos tem como justificativa oficial “desmantelar organizações criminosas transnacionais e combater o narcoterrorismo”.

Atualmente, boa parte dos ativos navais dos EUA está sob o Comando Sul, responsável pelas operações na América Latina. O reforço militar inclui ainda o grupo anfíbio Iwo Jima, três destróieres, um submarino de ataque, um cruzador e aeronaves de reconhecimento P-8 Poseidon. Além disso, o país reativou a base de Roosevelt Roads, em Porto Rico, desativada desde 2004, consolidando a ilha como centro de operações militares norte-americanas no Caribe.

Autoridades próximas ao presidente afirmam que Trump “não está com pressa” para decidir se levará adiante as operações, já que sua atenção no momento está voltada para a viagem à Ásia e as negociações com Rússia e Ucrânia sobre o fim da guerra. Ainda assim, o aumento da presença militar no Caribe tem levantado dúvidas sobre o real alcance da estratégia dos Estados Unidos na região e o risco de um confronto direto com o governo venezuelano.