
A descarbonização global perdeu fôlego com o corte de incentivos às tecnologias limpas promovido pelo governo de Donald Trump. Projetos de hidrogênio verde e de combustíveis sustentáveis de aviação (SAF) foram adiados ou cancelados, enquanto o mercado voluntário de carbono enfrenta crise de credibilidade desde 2023. Com informações do Estadão.
O cenário é oposto ao que seria necessário para cumprir o Acordo de Paris, que visa limitar o aquecimento global e reduzir emissões de CO₂.
Consultores ambientais afirmam que os custos de implementação e a falta de incentivos fiscais tornaram inviáveis muitos empreendimentos. “Tecnologias como SAF e hidrogênio verde não vão sair do papel sem apoio público”, afirma Filipe Bonaldo, da Alvarez & Marsal. Nos Estados Unidos, Trump encerrou programas criados na gestão de Joe Biden que concediam créditos de até US$ 1,25 por galão de combustível limpo. A decisão reduziu investimentos e provocou um efeito cascata sobre economias emergentes.
No Brasil, empresas como a Acelen, do fundo Mubadala, mantêm planos de construir usinas de SAF, mas ainda não iniciaram as obras. Apesar do avanço técnico, os altos custos — que ultrapassam US$ 1 bilhão por planta — e a ausência de contratos de longo prazo dificultam a viabilidade econômica. Segundo analistas, sem compradores garantidos ou políticas de estímulo, o retorno financeiro não compensa o investimento.

O mercado de carbono, visto como ferramenta essencial para compensar emissões, também enfrenta descrédito. Desde denúncias sobre créditos ineficazes, em 2023, o setor perdeu atratividade e investidores. “Hoje, quase três anos depois, o mercado continua sem confiança”, afirma Heloisa Baldin, da IWÁ. O enfraquecimento desse mecanismo afeta empresas que buscavam cumprir metas climáticas de forma voluntária.
As montadoras, por sua vez, recuam nos planos de eletrificação. O fim da isenção de US$ 7,5 mil na venda de carros elétricos nos EUA e a pressão da Alemanha para flexibilizar a meta europeia de proibir motores a combustão em 2035 mostram a tendência. “Os incentivos diminuíram no mundo. Agora, é preciso convencer as pessoas de que os carros elétricos ainda valem a pena”, afirma Cassio Pagliarini, da consultoria Bright.
Especialistas alertam que, sem coordenação internacional e incentivos, a transição energética pode perder uma década. “As melhores oportunidades para essas tecnologias acelerarem é buscar contextos onde tenham vantagem competitiva”, diz Marc Moutinho, do Acelerador da Transição Industrial. Ele defende que subsídios semelhantes aos que impulsionaram a energia eólica e solar sejam recriados para viabilizar a descarbonização global.