
Vestindo bermuda, chinelos e um boné de baseball que protege seus olhos do sol, Dalton Henry Stout poderia passar despercebido no interior dos Estados Unidos. Mas o símbolo em seu chapéu chama atenção: uma caveira com ossos cruzados, emblema das infames unidades “Cabeça da Morte” das SS nazistas que supervisionavam campos de concentração, acompanhado pelas iniciais “AFN”, sigla para Aryan Freedom Network (Rede da Liberdade Ariana), grupo neonazista que Stout lidera ao lado de sua companheira.
De uma casa modesta no Texas, o casal comanda uma rede que afirma ter sido impulsionada pelo retorno de Donald Trump à Casa Branca. Eles apontam o discurso do presidente, seus ataques a políticas de diversidade, posição dura sobre imigração e defesa de “valores ocidentais”, como responsável por um aumento no interesse e no recrutamento de novos membros.
“Trump despertou muitas pessoas para questões que levantamos há anos”, disse Stout à Reuters. “Ele foi a melhor coisa que aconteceu para nós”.
Crescimento da extrema-direita
Embora grupos como a Aryan Freedom Network permaneçam à margem da política estadunidense, rejeitados por conservadores tradicionais e pela sociedade em geral, eles estão cada vez mais presentes em manifestações públicas e atos de violência da extrema-direita, segundo entrevistas com membros de grupos extremistas, especialistas em radicalização e análise de dados sobre violência política.
Desde a reeleição de Trump, vários fatores contribuíram para esse cenário:
– O discurso de Trump galvanizou uma nova onda de ativistas de extrema-direita, alimentando o crescimento de grupos supremacistas brancos.
– Os perdões concedidos por Trump a participantes do ataque de 6 de janeiro ao Capitólio e a mudança no foco das autoridades federais para a imigração levaram muitos extremistas a acreditar que investigações contra nacionalistas brancos não são mais prioridade.
– Ideias antes restritas a grupos marginais, como os Proud Boys (que lideraram o ataque de 6 de janeiro), agora aparecem com mais frequência na política republicana, desde a negação de eleições até retórica que descreve imigrantes como “invasores”.
“O que antes era considerado extremo agora se mistura mais facilmente com a extrema-direita em geral, não porque esses grupos mudaram, mas porque o terreno ao redor deles mudou”, disse Heidi Beirich, cofundadora do Global Project Against Hate and Extremism.

Aumento da violência política
Essa mudança coincidiu com um aumento na atividade de grupos nacionalistas brancos. Dados do Armed Conflict Location & Event Data Project mostram que extremistas brancos foram responsáveis por 13% dos atos de violência política nos EUA em 2020. Em 2024, esse número saltou para quase 80%.
Trump nega apoiar o extremismo branco, e a Casa Branca rejeita a ideia de que seu discurso promove racismo. “O presidente Trump é um presidente para todos os estadunidenses, e o ódio não tem lugar em nosso país”, disse um porta-voz.
No entanto, Trump mantém apoio entre grupos nacionalistas brancos e usa retórica racialmente divisiva, como a falsa alegação de que Barack Obama não nasceu nos EUA e comentários recentes sugerindo que imigrantes cometem crimes violentos por causa de seus “genes”.
Stout afirma ainda que seu grupo não defende violência, mas a Aryan Freedom Network promove abertamente a ideologia da superioridade branca e se prepara para uma “Guerra Santa Racial”. Eles buscam unificar setores do movimento nacionalista branco e recrutam ex-membros de outros grupos extremistas.
O governo Trump reduziu esforços para combater o extremismo doméstico, realocando recursos para a imigração. Especialistas alertam que isso pode enfraquecer a capacidade de detectar e impedir ameaças.
Histórico familiar e crescimento
Stout, 34 anos, e sua companheira, que usa o pseudônimo “Daisy Barr”, nasceram em famílias com histórico no Ku Klux Klan. Ele frequentou cerimônias da Klan na infância, enquanto ela ajudava a preparar tochas para rituais de queima de cruzes.
O Aryan Freedom Network ganhou destaque em 2021 ao organizar uma conferência de “Unidade Branca” no Texas. Desde então, distribui panfletos racistas e protesta contra eventos LGBTQ+. Seus encontros anuais, chamados “Aryan Fests”, reúnem membros da Klan e outros grupos supremacistas.
Embora o casal se recuse a divulgar números exatos, estima-se que a rede tenha entre 1.000 e 1.500 membros, quase o dobro do que tinha no início de 2023.
“Eles estão crescendo, e estamos monitorando cada movimento”, disse Muskan Sangwan, pesquisadora do Terrorism Research and Analysis Consortium.