
Alex Soros, presidente do conselho de administração da Open Society Foundations, afirmou em entrevista à Folha de S.Paulo que a tentativa do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de desestabilizar o governo Lula (PT) “vai sair pela culatra”.
Confira alguns trechos:
O governo brasileiro encara o tarifaço, as sanções e as ameaças de Trump contra o Brasil como uma tentativa de “mudança de regime”, de levar à saída do presidente Lula. O que o sr. acha?
Isso é indiscutível. Tudo isso é direcionado ao atual governo brasileiro, [o deputado federal do PL] Eduardo Bolsonaro está ditando aspectos da política dos EUA para o Brasil. Não é possível contemporizar com Trump, Lula teria de deixar de ser o Lula para que isso acontecesse, e o Brasil teria de ceder em sua soberania.
Um grupo de governadores da oposição tem dito que Lula não faz o suficiente para negociar com Trump. Qual a sua opinião?
Não há nada que se possa negociar com Trump. Alguém já fez um acordo ou fez negócios com Trump e acabou se saindo bem? Fora [Vladimir] Putin e Xi Jinping? E o que há para negociar? Negociar Bolsonaro e sua soltura?
Mas eu acho que o que Trump está fazendo vai sair pela culatra. Ele está tornando Lula mais popular [pesquisa da Quaest mostrou que a distância entre a avaliação positiva e negativa do governo, que era de 17 pontos, caiu para 8].
Globalmente, o efeito Trump faz com que a soberania agora seja parte da agenda de centro e de centro-esquerda. Com Mark Carney [primeiro-ministro canadense], os australianos, na Romênia, Trump perdeu em todos os lugares em que tentou influenciar eleições, com exceção da Polônia.

Em que sentido a soberania agora faz parte da agenda de centro?
O conceito de soberania nacional agora faz parte do centro, da centro-esquerda e centro-direita, porque o comportamento de Trump é uma ameaça à soberania em todo o mundo.
Em todos os lugares em que tentou interferir ou emplacar um “proxy”, ele fracassou. As pessoas querem votar contra Trump.
Da mesma forma que Putin é uma ameaça por causa de sua guerra na Ucrânia, em que tenta redesenhar fronteiras pela força, Trump é uma ameaça à soberania porque tenta desestabilizar governos. (…)
É preciso fazer alianças para se proteger, compartilhar o fardo, diminuir os riscos. Trump vê o mundo por meio de esferas de influência. Ele quer expandir os EUA, acredita ter o direito de intervir na América Latina. (…)