
Durante o trajeto de sua comitiva rumo a um clube de golfe em Washington, no último domingo, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mandou retirar um acampamento de pessoas em situação de rua após fotografá-lo de dentro do carro oficial e publicar as imagens em sua rede Truth Social.
Trump escreveu: “Os sem-teto precisam sair, IMEDIATAMENTE”. Entre as fotos, estava a de Bill Theodie, 66 anos, sentado em frente à sua barraca. Quatro dias depois, ele e outros moradores foram obrigados a deixar o local.
“É surreal que o presidente simplesmente tenha abaixado a janela, tirado minha foto e usado isso como arma política”, disse Theodie, em entrevista.
Na segunda-feira, Trump anunciou oficialmente que sua administração começaria a remover acampamentos em parques da capital. “Temos favelas aqui, vamos acabar com elas”, declarou na Casa Branca. Pouco depois, equipes municipais passaram a notificar os moradores sobre a desocupação.
O local onde estava o acampamento ficava a cerca de 10 minutos da Casa Branca. Segundo a prefeitura, era o maior da cidade, abrigando 11 pessoas. Ao todo, 97 pessoas viviam em barracas em Washington em 2025 — número inferior ao de 2023, quando eram 294.
Theodie contou que viveu por anos no espaço, conseguindo apenas alguns bicos na construção civil desde que perdeu o emprego fixo em 2018. Na quinta-feira, ele e os demais foram informados de que precisavam sair imediatamente. Um trator foi enviado para derrubar as barracas e recolher os pertences deixados para trás.
“Eles disseram que era para arrumar tudo rápido ou perderíamos nossas coisas. Não houve conversa, só ordem para ir embora”, relatou.
O governo afirmou que oferecerá vagas em abrigos e acesso a serviços de saúde mental e dependência química. Quem recusar poderá enfrentar multas ou até prisão. Organizações que atuam com pessoas em situação de rua criticaram a medida, lembrando que a capacidade dos abrigos é limitada.
Theodie recusou a ideia de se mudar para um abrigo. “São lugares perigosos. Não quero ir para lá”, disse. Após a remoção, ele conseguiu três noites em um motel na Virgínia graças a uma doação.
George Morgan, 65, também foi afetado. Morador de Washington, havia se mudado para o acampamento há dois meses, depois de perder a moradia. Conseguiu abrigo temporário em um motel com a ajuda de terceiros. “Estou vivendo dia após dia, sem dinheiro. Só me resta esperar o que vai acontecer”, afirmou.
Segundo dados da prefeitura, 5.138 pessoas estão em situação de rua na capital em 2025, número inferior ao registrado no ano anterior (5.613). Dessas, cerca de 800 dormem ao relento.