
O governo dos Estados Unidos ainda não respondeu ao pedido de visto do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, necessário para que ele acompanhe a delegação brasileira nas reuniões da Assembleia Geral da ONU, no final deste mês em Nova York. Pelas regras da entidade internacional, todos os países anfitriões têm a obrigação de conceder vistos às delegações de outros países.
Padilha já havia sido alvo de sanções por sua participação na contratação de médicos cubanos para atuar no Brasil, mas, por integrar a delegação oficial brasileira, voltou a solicitar o visto. Até o momento, segundo Jamil Chade, do Uol, a embaixada estadunidense não respondeu ao pedido.
A edição deste ano da Assembleia Geral, que começa no dia 23, marca o 80º aniversário das Nações Unidas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) será o primeiro a discursar, seguido pelo ex-presidente estadunidense Donald Trump.
Nos corredores que dão acesso ao palco, encontros entre as delegações são praticamente inevitáveis, o que promete testar a dimensão da tensão entre Brasil e Estados Unidos. Fontes do governo brasileiro indicaram ao Uol que novas sanções podem ser anunciadas caso o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) seja condenado, e que qualquer anúncio desse tipo ocorreria antes da reunião da ONU.
No Palácio do Planalto, a ordem é se preparar para eventuais obstáculos à delegação brasileira. Mesmo assim, o governo insiste que, pelo acordo firmado entre a ONU e os Estados Unidos em 1947, as autoridades estadunidenses não podem negar vistos a delegações estrangeiras que viajam para reuniões nas Nações Unidas.

O documento estabelece que os vistos “devem ser dados sem custo e o mais rápido possível”. No entanto, o governo Trump tem violado essa regra. Na semana passada, Washington anunciou que não concederia vistos à delegação palestina.
Fontes diplomáticas brasileiras explicam que os Estados Unidos costumam adotar uma série de obstáculos para enfraquecer delegações de países sob sanções. No caso da Rússia, ministros visitaram a sede da ONU com frequência ao longo dos últimos três anos de guerra na Ucrânia, mas as autorizações eram concedidas poucas horas antes das reuniões, inviabilizando a presença de técnicos e auxiliares.
A chamada “operação tartaruga” também já afetou delegações de Irã, Sudão, Cuba e Venezuela. Durante o governo Trump, entre 2017 e 2021, diversas queixas foram registradas junto à ONU por delegações afetadas pela negativa de vistos. Em 2019, Rússia e Irã interromperam trabalhos em alguns comitês em protesto, depois que mais de 70 diplomatas de ambos os países foram impedidos de entrar no país.