
A relação entre Brasil e Estados Unidos entrou em novo estágio de tensão nesta quarta-feira (9), após o presidente norte-americano Donald Trump anunciar a aplicação de uma tarifa de 50% sobre produtos importados do Brasil. A medida, que passa a valer a partir de 1º de agosto, representa a alíquota mais alta entre as novas sanções comerciais divulgadas por Trump nesta semana.
A decisão foi comunicada por meio de uma carta endereçada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), divulgada na plataforma Truth Social, rede social de Trump. No texto, o republicano afirma que a medida se justifica por uma relação que considera “desbalanceada” com o Brasil, mas também faz referência explícita à situação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe.
“Não podemos continuar tratando como parceiro um país que persegue adversários políticos”, escreveu Trump, em alusão direta ao Judiciário brasileiro e ao que classifica como uma “injustiça” contra Bolsonaro. A fala reforça o tom de interferência nas instituições brasileiras, que já havia sido criticado oficialmente pelo Itamaraty horas antes.
A nova tarifa foi recebida com preocupação por setores da indústria e do agronegócio, que temem impacto sobre exportações estratégicas, como aço, alumínio, celulose e produtos agrícolas. No plano diplomático, o governo brasileiro considera a medida hostil e injustificada, e deve avaliar respostas comerciais e políticas nos próximos dias.
O episódio aprofunda a crise diplomática aberta após a embaixada dos EUA em Brasília divulgar nota em defesa do ex-presidente brasileiro — fato que já motivou uma convocação formal do encarregado de Negócios norte-americano pelo Ministério das Relações Exteriores.
Leia a carta na íntegra
9 de julho de 2025
Sua Excelência
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República Federativa do Brasil
Brasília
Prezado Sr. Presidente:
Conheci e tratei com o ex-Presidente Jair Bolsonaro, e o respeitei muito, assim como a maioria dos outros líderes de países. A forma como o Brasil tem tratado o ex-Presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado em todo o mundo durante seu mandato, inclusive pelos Estados Unidos, é uma vergonha internacional. Esse julgamento não deveria estar ocorrendo. É uma Caça às Bruxas que deve acabar IMEDIATAMENTE!
Em parte devido aos ataques insidiosos do Brasil contra eleições livres e à violação fundamental da liberdade de expressão dos americanos (como demonstrado recentemente pelo Supremo Tribunal Federal do Brasil, que emitiu centenas de ordens de censura SECRETAS e ILEGAIS a plataformas de mídia social dos EUA, ameaçando-as com multas de milhões de dólares e expulsão do mercado de mídia social brasileiro), a partir de 1º de agosto de 2025, cobraremos do Brasil uma tarifa de 50% sobre todas e quaisquer exportações brasileiras enviadas para os Estados Unidos, separada de todas as tarifas setoriais existentes. Mercadorias transbordadas para tentar evitar essa tarifa de 50% estarão sujeitas a essa tarifa mais alta.
Além disso, tivemos anos para discutir nosso relacionamento comercial com o Brasil e concluímos que precisamos nos afastar da longa e muito injusta relação comercial gerada pelas tarifas e barreiras tarifárias e não tarifárias do Brasil. Nosso relacionamento, infelizmente, tem estado longe de ser recíproco.
Por favor, entenda que os 50% são muito menos do que seria necessário para termos igualdade de condições em nosso comércio com seu país. E é necessário ter isso para corrigir as graves injustiças do sistema atual. Como o senhor sabe, não haverá tarifa se o Brasil, ou empresas dentro do seu país, decidirem construir ou fabricar produtos dentro dos Estados Unidos e, de fato, faremos tudo o possível para aprovar rapidamente, de forma profissional e rotineira — em outras palavras, em questão de semanas.
Se por qualquer razão o senhor decidir aumentar suas tarifas, qualquer que seja o valor escolhido, ele será adicionado aos 50% que cobraremos. Por favor, entenda que essas tarifas são necessárias para corrigir os muitos anos de tarifas e barreiras tarifárias e não tarifárias do Brasil, que causaram esses déficits comerciais insustentáveis contra os Estados Unidos. Esse déficit é uma grande ameaça à nossa economia e, de fato, à nossa segurança nacional!
Além disso, devido aos ataques contínuos do Brasil às atividades comerciais digitais de empresas americanas, bem como outras práticas comerciais desleais, estou instruindo o Representante de Comércio dos Estados Unidos, Jamieson Greer, a iniciar imediatamente uma investigação da Seção 301 sobre o Brasil.
Se o senhor desejar abrir seus mercados comerciais, até agora fechados, para os Estados Unidos e eliminar suas tarifas, políticas não tarifárias e barreiras comerciais, nós poderemos, talvez, considerar um ajuste nesta carta. Essas tarifas podem ser modificadas, para cima ou para baixo, dependendo do relacionamento com seu país. O senhor nunca ficará decepcionado com os Estados Unidos da América.
Muito obrigado por sua atenção a este assunto!