
Apesar de manter um discurso de linha dura contra o crime, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem desarticulado programas estratégicos que combatiam organizações criminosas internacionais. A ONG InSight Crime aponta que o corte na ajuda externa, promovido pela administração Trump, afeta diretamente ações contra lavagem de dinheiro, tráfico de drogas e corrupção. A retirada de recursos da USAID enfraquece países como México, Haiti e Colômbia no enfrentamento do crime organizado.
No México, a suspensão da assistência técnica para identificação de desaparecidos em estados com alto número de valas clandestinas compromete investigações e combate ao narcotráfico. No Haiti, o corte de 89% da ajuda humanitária concedida em 2024 reduz a capacidade da polícia local e de missões da ONU no enfrentamento de gangues armadas. A medida foi considerada estratégica para Trump, que também deseja limitar a migração desses países para os EUA.
A Colômbia também foi diretamente afetada. Programas que davam suporte à implementação do acordo de paz com as Farc foram descontinuados, incluindo iniciativas de reintegração de ex-combatentes e substituição de culturas ilegais. Dos 80 projetos que eram financiados pela USAID, apenas sete seguem ativos. Isso abre caminho para o avanço do narcotráfico e da mineração ilegal no país sul-americano, segundo especialistas.
Relatórios do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc) apontam um crescimento de 34% na produção mundial de cocaína entre 2022 e 2023, atingindo 3.708 toneladas. O uso de drogas também bateu recorde, com 316 milhões de usuários no mundo. O Unodc destaca que o cenário político instável na América Latina e as decisões políticas dos EUA impulsionam redes criminosas transnacionais.

Nos Estados Unidos, Trump ainda promoveu o esvaziamento de leis internas contra a lavagem de dinheiro e corrupção. O Departamento do Tesouro anunciou que não exigirá mais a identificação dos reais donos de empresas, o que fragiliza a Lei de Transparência Corporativa. Essa brecha facilita o uso de empresas de fachada para lavar dinheiro, estimado em US$ 300 bilhões anuais no país.
Além disso, diversas unidades do Departamento de Justiça especializadas no combate à corrupção externa foram desmontadas, e cortes nas divisões que atuam contra crimes internos também estão em análise. A Lei de Práticas de Corrupção no Exterior (FCPA), importante ferramenta para fiscalizar empresas americanas que cometem irregularidades no exterior, também perdeu força. A decisão de Trump, segundo analistas, cria um ambiente favorável à impunidade financeira.