Trump quer usar a Cúpula das Américas para classificar o narcotráfico como terrorismo

Atualizado em 31 de outubro de 2025 às 10:59
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Foto: Reprodução

O governo de Donald Trump pretende usar a Cúpula das Américas, marcada para dezembro, como palco para pressionar os países do continente a classificarem o narcotráfico e o crime organizado como “terrorismo”, conforme informações do colunista Jamil Chade, do UOL.

O encontro será realizado na República Dominicana, em comemoração aos 30 anos das Cúpulas das Américas, e deve ser marcado por divergências profundas entre os líderes.

Um dos principais pontos de tensão é justamente a tentativa dos Estados Unidos de incluir o termo “terrorismo” na declaração final do evento, com o objetivo de enquadrar grupos ligados ao narcotráfico na mesma categoria de organizações extremistas.

Segundo diplomatas envolvidos nas negociações, a Casa Branca já aplica essa classificação internamente. Em apenas nove meses, dez grupos latino-americanos foram designados como “terroristas”, o que, segundo o secretário de Guerra americano, Pete Hegseth, permite que esses grupos recebam o mesmo tratamento dado a organizações como a Al-Qaeda.

Com essa designação, Washington passaria a ter autorização legal para empregar meios bélicos contra alvos considerados ameaças à segurança nacional — algo que, segundo diplomatas, abre brecha para ingerência em territórios estrangeiros e eventuais ações militares.

Apoios e resistências no continente

Governos aliados de Trump, como os de Javier Milei (Argentina), Peru e Equador, já manifestaram apoio à proposta. Milei, inclusive, classificou o PCC e o Comando Vermelho (CV) como grupos terroristas nesta semana, após os episódios de violência no Rio de Janeiro.

Policiais civis avançam por viela nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Foto: Jose Lucena

Outros países, como Brasil, Colômbia, Chile e Uruguai, sinalizaram que devem se opor à medida, por considerarem que ela pode abrir precedentes perigosos para intervenções externas. O Itamaraty já indicou que defenderá uma posição contrária à inclusão do termo no texto final da cúpula.

No Brasil, o governo Lula (PT) rejeitou oficialmente a proposta americana. A Polícia Federal se recusou a receber uma delegação enviada pelos EUA para discutir o tema. Em contrapartida, Flávio Bolsonaro e o governador do Rio, Cláudio Castro, manifestaram apoio à posição de Washington.

Cúpula sob clima de tensão diplomática

Além do debate sobre o narcotráfico, a cúpula ocorre em um momento de tensões militares crescentes no Caribe, após Trump autorizar a atuação da CIA na Venezuela e o envio do maior porta-aviões do mundo para a região.

Nos bastidores, a exigência de que membros do Pentágono assinassem termos de confidencialidade sobre as operações na América Latina também gerou preocupação dentro do próprio governo americano.