
O encontro entre Lula e Donald Trump, realizado na Malásia, foi classificado por diplomatas brasileiros como “positivo” e um “impulso poderoso” à relação entre os dois países. Fontes do Itamaraty ouvidas pela coluna de Lauro Jardim no jornal O Globo apontaram que o diálogo foi cordial e produtivo, mas também revelou nuances políticas inesperadas.
Durante a conversa, Trump demonstrou curiosidade sobre o passado de Lula, perguntando por quanto tempo ele havia ficado preso e como ascendeu de líder sindical a presidente da República. Um diplomata experiente afirmou que o republicano “se identificou” com a história do petista, por enxergar paralelos entre suas trajetórias.
Segundo ele, “agora está vendo o Lula como um semelhante e alguém que deu a volta por cima. É um pouco da cultura americana dos ‘winners and losers’. E o Lula é um vencedor”. A mesma fonte aponta que o tema é um “fator de aproximação” entre eles.
Outro diplomata avaliou que Trump percebeu o erro estratégico nas sanções econômicas aplicadas contra o Brasil, que acabaram fortalecendo a imagem de Lula e enfraquecendo a narrativa de que o país teria sido tratado com Justiça.
O mesmo interlocutor destacou que “os americanos, pressionados pela indústria e pragmáticos, precisaram recalcular a rota e tendem a afrouxar as medidas impostas”. Apesar do clima amistoso, diplomatas alertam que ainda há dúvidas sobre o comportamento futuro de Trump.

Um embaixador brasileiro ponderou que, embora o presidente dos Estados Unidos tenha demonstrado simpatia por Lula e interesse em seguir as negociações, “ele muda muito de opinião”. Outro diplomata questionou abertamente: “A pergunta é: com quem ele vai querer negociar nos próximos anos?”.
A avaliação dentro do Itamaraty é de que Trump, por ora, adotou um tom mais conciliador com o Brasil, mas sua postura pode variar conforme os rumos da política interna norte-americana e o cenário eleitoral brasileiro de 2026. Há a percepção de que o republicano busca equilibrar pragmatismo econômico com um discurso populista voltado à sua base.
Em entrevista coletiva nesta segunda (27), Lula confirmou que a reunião superou as expectativas. “O encontro com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foi surpreendentemente bom”, disse. O petista afirmou ter saído com a impressão de que “o clima entre os dois países não vai gerar problemas” e que há disposição de ambos para avançar em um acordo comercial.
Lula também fez críticas diretas às tarifas impostas por Washington, que aumentaram em 50% as taxas sobre produtos brasileiros. “O que não pode é acontecer o que aconteceu com o Brasil, com base em informações equivocadas, tomar uma decisão de taxar o Brasil em 50%. Ele sabe disso porque eu tive a oportunidade de dizer, agora não tem mais intermediário. Agora é o presidente Lula com o presidente Trump”, prosseguiu.
O presidente brasileiro disse ter saído otimista do encontro e prometeu manter contato direto com o líder americano. “Se depender do desenrolar da situação, já vou importunar [Trump] com um telefonema direto”, declarou Lula.