
De tanto latir, Trump já não assusta mais ninguém.
É assim que investidores e especialistas brasileiros enxergam o barulho gerado pelo anúncio de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. Eles preferem manter a cautela, pois a maioria acredita que o mandatário americano não levará a ameaça adiante.
A leitura nos bastidores é de que o presidente dos EUA está repetindo um velho roteiro — provocar ruído, tensionar mercados e, em seguida, recuar estrategicamente. É o padrão que ficou conhecido como “Taco Trade”, uma sigla irônica para “Trump Always Chickens Out” (Trump Sempre Amarela).
A movimentação já começou a ser precificada.
Após uma alta de 2,11% no dólar na semana, a moeda desacelerou nesta sexta (11), fechando com leve avanço de 0,1%, a R$ 5,54. Analistas interpretaram como sinal de arrefecimento o comentário do próprio Trump de que “talvez” converse com Lula “em algum momento”.
Essa ambiguidade é típica do ex-presidente, e gera o que gestores descrevem como um “choque de curto prazo seguido de recuo”, especialmente quando há risco de impacto negativo nos próprios eleitores ou parceiros empresariais americanos.
Empresas do setor agro e de manufaturados nos Estados Unidos, que se beneficiam das importações brasileiras, também devem pressionar contra a efetivação das tarifas, caso as medidas avancem. “Ele sabe até onde pode ir sem se prejudicar domesticamente”, disse Alexandre Viotto, da EQI Investimentos, ao Valor Econômico. É nesse cálculo político e econômico que o mercado aposta: o blefe serve ao discurso de campanha, mas tem pouco fôlego prático.
Outro fator considerado é a pouca dependência brasileira do mercado americano. As exportações para os EUA representam apenas 2% do PIB, e a China segue como principal destino comercial do Brasil. Para gestores da Franklin Templeton e Aberdeen, essa estrutura mais diversificada torna o país menos vulnerável e dá margem para resistir ao embate, o que enfraquece o poder de barganha de Trump e reforça a ideia de que o tarifaço, no fim das contas, pode não passar de barulho de campanha.