Tudo certo como 2 e 2 são 5: a lucidez de Mano Brown e o velho nonsense de Roberto Carlos. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 3 de fevereiro de 2018 às 0:07
Mano Brown

De certo modo, é ingenuidade — e até covardia — esperar qualquer coisa de Roberto Carlos.

Ainda assim, impressiona como o veterano cantor segue firme como o nefelibata oficial da música popular brasileira.

Na coletiva de imprensa da nova edição de seu cruzeiro temático, Roberto respondeu a uma pergunta sobre Moro.

“O trabalho do Sergio Moro e de todas as instituições é uma coisa maravilhosa, uma coisa que nos consola, que nos anima”, falou.

“Principalmente pelo crédito que podemos dar ao Sergio Moro e ao que ele está fazendo. Ele realmente merece todo o nosso apoio e os nossos aplausos”. 

Roberto garantiu que, apesar de desobrigado por causa da idade (76 anos), ainda faz questão de comparecer às urnas.

“Eu não preciso votar mas ainda voto. Vejo tudo isso com muito otimismo. As coisas estão sendo realmente resolvidas”, afirmou. 

A opinião de RC é apenas reveladora do universo fantástico em que ele vive, cheio de baleias e golfinhos e calhambeques bip bip.

No mesmo dia em que o rei dava suas cacetadas ao acaso, diretamente de sua Miami mental, Mano Brown falava da vida como ela é a um jornal de Porto Alegre, onde fará shows.

O contraste é gritante e emblemático de um país dividido e no qual não há campo para diálogo. Lúcido, cortante, Brown não vê espaço para os Racionais porque “aquele povo para quem a gente cantava não é o mesmo de hoje, aquele povo queria outras coisas”.

“A periferia está com muito medo, está votando em polícia porque conquistou as coisas no governo Lula e agora tem raiva de tudo o que soe ameaçador.”

Segundo o rapper, “o momento é de radicalismo político. Na internet, você pode ser um assassino com as palavras sem ser penalizado por nada. Você pode destilar o seu ódio”.

“Hoje, você é apedrejado por falar de Lula. É linchado na internet, junto à opinião pública”, diz. “A luta que as pessoas dizem ter é individual. Não vejo mais luta de classes. A luta é por conforto. Está todo mundo com medo”.

Nem todo mundo. Roberto, e o país do auxílio moradia que Roberto representa, vê as coisas sendo “resolvidas”. Como avisou seu colega Caetano, tudo está certo como e dois e dois são cinco, tudo está deserto. 

Sua estupidez não lhe deixa ver. O Brasil é brown.