
A atriz e ativista humanitária Angelina Jolie viajou nesta semana à cidade de Kherson, na Ucrânia, para chamar a atenção do mundo para o uso de drones pelas forças russas em ataques contra civis. A visita, realizada na terça-feira (5), também acabou expondo uma das maiores dificuldades enfrentadas pelo país em guerra: o alistamento compulsório de homens para o Exército.
De acordo com o New York Times, o comando das Forças Terrestres da Ucrânia informou que um dos motoristas que acompanhava Jolie foi detido em um posto de controle e teve o processo de recrutamento iniciado. “Assim que todos os detalhes foram resolvidos, a conhecida atriz seguiu seu trajeto planejado”, informou o órgão em comunicado. O motorista, segundo o governo, será incorporado ao Exército.
Um portal de notícias ucraniano chegou a divulgar um vídeo que mostraria Jolie em um escritório de recrutamento militar durante o episódio, mas as imagens não puderam ser verificadas de forma independente. A atriz não interferiu na ação das autoridades.
Pelas leis locais, todos os homens entre 25 e 60 anos podem ser convocados para servir nas Forças Armadas. As verificações em estradas são comuns em razão da crescente tentativa de fuga do serviço militar por parte da população masculina.
Cidade devastada por drones e medo constante
A viagem de Angelina Jolie teve como destino uma das regiões mais atingidas pelos ataques russos. Kherson, localizada às margens do rio Dnipro e próxima de áreas ainda ocupadas pela Rússia, vive sob bombardeios diários. A atriz visitou hospitais, abrigos subterrâneos e conversou com crianças que vivem em porões para se proteger dos drones.
Segundo autoridades locais, na semana anterior à visita, cerca de 2.500 drones russos sobrevoaram a cidade. A Organização das Nações Unidas classificou esses ataques como crimes de guerra.

Em relatório divulgado no mês passado, a ONU afirmou que pilotos russos têm mirado civis “enquanto caminham nas ruas, trabalham em seus jardins ou dirigem entre a cidade e os vilarejos próximos”.
O documento também relata que o exército russo utiliza bombas incendiárias para destruir casas e, em seguida, lança granadas sobre bombeiros que tentam conter os incêndios. A ONU conclui que o objetivo é criar “um clima permanente de terror” e forçar a população local a abandonar a região.
Ainda segundo o relatório, mais de 200 civis foram mortos e outros 2.000 ficaram feridos em Kherson no último ano. Os russos costumam publicar vídeos desses ataques em redes sociais para amplificar o medo entre os moradores.
Em comunicado divulgado pela Legacy of War Foundation, organização que ajudou a coordenar a visita, Angelina Jolie destacou a coragem dos habitantes da cidade. “As pessoas em Kherson vivem com perigo todos os dias, mas se recusam a desistir”, disse.
“Em um momento em que governos viram as costas para a proteção de civis, a força e o apoio mútuo dessas pessoas são inspiradores”.
Durante a visita, Jolie usou um colete à prova de balas e observou medidas improvisadas de defesa, como redes estendidas sobre as ruas para tentar deter os drones. Ela também constatou que escolas e unidades de saúde foram transferidas para o subsolo. “Os moradores continuam vivendo sua rotina diária sob a constante presença de drones”, afirmou a fundação.
O vice-chefe da administração militar regional de Kherson, Oleksandr Tolokonnikov, agradeceu pela visita. “Para nós, é um gesto enorme e significativo de apoio”, declarou.
Uma moradora da cidade, Svitlana Horieva, afirmou que ninguém sabia que a estrela de Hollywood estava ali até depois de sua partida. “Descobrimos apenas quando Angelina já tinha ido embora”, contou.