Ucrânia também bombardeou barragem que colapsou em Kakhovka

Atualizado em 8 de junho de 2023 às 5:59
Foto aérea mostra danos à barragem de Kakhovka, no sul da Ucrânia

Na terça-feira (6), uma grande barragem e usina hidrelétrica no sul da Ucrânia, ocupada pela Rússia, sofreu um colapso, provocando evacuações em massa e temores de devastação em larga escala. Moradores próximos à barragem de Nova Kakhovka, no rio Dnipro, em Kherson, foram instruídos a “fazer tudo o que puderem para salvar suas vidas”.

A barragem de Nova Kakhovka é o maior reservatório da Ucrânia em termos de volume. Kherson, maior cidade no curso do rio, tem cerca de 300 mil habitantes. Ucranianos e russos trocam acusações sobre quem teria sabotado a barragem e causado o desabamento. A represa retém cerca de 18 quilômetros cúbicos de água.

Imagens de satélite mostram que a ponte rodoviária na barragem estava intacta em 28 de maio. No entanto, imagens de 5 de junho mostram um trecho da mesma ponte faltando. A análise de imagens de satélite de baixa resolução sugere que a perda da seção da ponte ocorreu entre 1º e 2 de junho.

A usina nuclear de Zaporizhzhiad, hoje sob controle russo, fica a montante da barragem destruída. O reservatório fornece água de resfriamento para a usina, a maior usina nuclear da Europa, e é crucial para sua segurança. A Agência Internacional de Energia Atômica disse que “não há risco imediato de segurança nuclear” na usina, acrescentando que os especialistas da agência no local estavam “monitorando de perto a situação”.

Já a agência nuclear ucraniana Energoatom afirmou que, embora a água do reservatório seja necessária para o “reabastecimento dos condensadores de turbina e sistemas de segurança” da usina, a lagoa de resfriamento está “cheia” e a partir das 8h, horário local, “o nível da água é 16,6 metros, o que é suficiente para as necessidades da usina”.

Reportagens do New York Times e do Washington Post, publicadas ainda em abril de 2022, mostram como a Ucrânia sabotou parte da infraestrutura do país, numa tentativa de deter a invasão russa, iniciada em fevereiro passado.

“Nós salvamos Kiev”, disse Antonina Kostuchenko, uma idosa desabrigada pelas inundações em Demidyv, cidade ao norte da capital ucraniana. Na ocasião, auge da ofensiva russa, as tropas de Moscou estavam nos arredores da capital vizinha. Para impedir a tomada de Kiev, os militares ucranianos ordenaram a inundação de diversas cidades.

Em outras cidades ucranianas, o governo ucraniano deliberadamente explodiu pontes, destruiu rodovias e danificou aeroportos e linhas férreas. O intuito era impedir o uso da infraestrutura pelas tropas russas – ironicamente, a mesma estratégia fora usada 80 anos antes pelos soviéticos para impedir as tropas nazistas de avançar pelo território da URSS em 1942.

Mais de 300 pontes foram destruídas em toda a Ucrânia, segundo o próprio ministro da Infraestrutura do país, Oleksandr Kubrakov. No primeiro dia da invasão russa, 24 de fevereiro, um aeroporto nos arredores de Kiev foi depredado pela Ucrânia – com a pista cheia de crateras, era inviável aos aviões russos usarem o local para trazer suprimentos às tropas em terra.

O dano total estimado à infraestrutura de transporte, após dois meses de guerra, era de cerca de US$ 85 bilhões, disse o governo ucraniano. Independentemente de qual lado realmente destruiu qualquer infraestrutura, Kubrakov culpou a Rússia.

A Rússia municiava suas forças na região por meio de três cruzamentos: a ponte Antonovsky, a ponte ferroviária Antonovsky e a represa Nova Kakhovka, com uma estrada passando por cima dela. Daí a ideia ucraniana de danificar parte da estrutura local.

Partiu do general Andriy Kovalchuk a ideia de inundar o rio Dnipro, diz o Washington Post. Os ucranianos até realizaram um teste de ataque com um lançador HIMARS em uma das comportas da barragem de Nova Kakhovka, fazendo três furos no metal para ver se a água do Dnieper poderia ser elevada o suficiente para bloquear as travessias russas, mas não inundar as aldeias nas proximidades.

No entanto, no caso da barragem de Kakhovka, a estratégia de “destruição calculada”, usada pelos dois lados no front, talvez tenha ido longe demais. Os russos, segundo acusações ucranianas, teriam destruído a rodovia ao longo da barragem. Os russos, por sua parte, acusam a Ucrânia de ter “plantado” três bombas na usina.

Conforme especialistas em infraestrutura, tais explosões danificaram a estrutura. Para piorar, o nível de água estava em seu nível máximo na semana passada. A estrutura não aguentou a pressão e colapsou, causando um desastre humanitário e ambiental de grandes proporções.