Um ano depois da onda de massacre em presídios, quase nada mudou. Por Luís Carlos Valois

Atualizado em 31 de dezembro de 2017 às 7:58

PUBLICADO ORIGINALMENTE NO FACEBOOK DE LUÍS CARLOS VALOIS

Há um ano ocorreu a pior chacina entre presos da história, justamente em Manaus, em uma penitenciária sob a jurisdição da VEP da qual sou titular.

Estive lá, vi mais de cinquenta corpos esquartejados, queimados, decepados, mas pude ajudar de alguma forma a que aquilo não se tornasse algo pior.

Um novo dia 1º se aproxima, as festividades, o Natal, réveillon, tudo vai me deixando tenso. As pessoas me perguntam sobre a ameaça de uma nova rebelião. Sinceramente, não sei.

O que foi feito depois do massacre: A VEP de Manaus, a única, para uma cidade de dois milhões de habitantes, ganhou três funcionários e agora tem oito guerreiros, com mais alguns poucos estagiários, não menos guerreiros.

Manaus ganhou mais um estabelecimento penal, embora tenha tido outro, menor, fechado.

Alguns presos foram indiciados, outros transferidos para penitenciárias federais.

Ou seja, o problema da prisão, superlotada, sem respeito aos direitos previstos na mesma lei que a prevê, esse problema não foi resolvido, nem se pensa em resolver.

A prisão continua sendo o grande monumento nacional ao desrespeito à lei. É claro que pode haver uma nova rebelião em qualquer prisão do Brasil, a qualquer momento.

Minha memória, minhas lembranças é que me deixam mal.

Fui ajudar naquele dia 1º, no recesso, sem estar no plantão, corri risco de morte, fui atacado por parte da imprensa que não acredita que alguém, muito menos um juiz, pode pensar em fazer o bem sem querer nada em troca, não me arrependo, mas, confesso, estou com medo.

O que me resta é a esperança, essa esperança que é característica dos presos e familiares, muitas vezes ligada a Deus, porque não se acredita mais no Estado como instrumento de justiça.

Esperança de que aquilo não ocorra novamente, não comigo ainda juiz da VEP, não naquelas proporções novamente em Manaus, não, de novo não, é o que eu espero também, é o que peço, mesmo na minha cambaleante fé, a Deus.