Um belo documentário sobre Tico Terpins e a falta que faz sua joelhada anárquica no rock e no bolsonarismo

Atualizado em 18 de maio de 2019 às 16:55
A segunda formação do Joelho. Tico Terpins é o 1º à esquerda

Tico Terpins, personagem que cruzou três décadas aprontando e inventando com seu rock debochado, tem sua passagem pela Terra reconstituída por seu sobrinho e fã número 1 Rafael Terpins.

Ele é diretor de “Meu Tio e o Joelho de Porco”.

Um cometa que passou (como diria Rita Lee), Tico é herdeiro direito da irreverência e humor dos Mutantes e ajudou a personificar um rock tipicamente paulista dos anos 70.

Anos de chumbo em que a censura era uma sombra a toda e qualquer manifestação crítica e a patrulha ideológica detonava tudo que não fosse MPB raiz.

Enquanto o pau comia no lombo da oposição ao regime militar, Terpins deu luz a inúmeras formações do seu projeto.

O Joelho de Porco teve na voz de Próspero Albanese seu melhor intérprete e a sua maior sacação pop foi na química com o argentino Billy Bond.

Teve resultados efetivos e comerciais ao se juntar a Zé Rodrix (sócio de Tico na produtora publicitária A Voz do Brasil) já num momento mais família de

sua criação.

O sobrinho fã empresta uma carga emocionante e intensa. A São Paulo dos Anos 70 era muito careta e figuras como Tico fundamentais à contracultura.

Tico conseguia unir Aracy de Almeida com Alice Cooper em uma salada de gêneros, números e graus.O excesso mandava seguir em frente,

Os limites tinham ser rompidos.

Na somatória dos depoimentos verificamos uma equação típica: os meninos de boa “linhagem” teriam de seguir os ditames estabelecidos nas boas e tradicionais famílias paulistanas.

O baterista Pagura, da primeira banda a gravar com Tico, se tornou um médico renomado, o vulcão Próspero Albanese teve de realizar o sonho do pai tornando-se advogado amargurado.

O judeu anarquista Terpins levou a música até suas últimas consequências, Ainda moleque tinha uma Fender Stratocaster trazida pelos pais de Nova York, enquanto seus pares na música tinham que se virar com as guitarras Snake ou Gianinni.

O filme é generoso com as escolhas individuais dos personagens.

O diretor ainda menino se aproximou de forma definitiva do tio roqueiro após a perda repentina do pai por complicações cardíacas.

Rafael conta que do início ao fim do trabalho foram longos 5 anos de idas e vindas.

“Os caras estavam morrendo, tinha de finalizar o quanto antes”, afirma.

Tico deixou sua marca e saudades.

Um cara que faz falta nessas trevas que povoam nossos dias.