O colunista da Época Guilherme Fiúza se tornou subitamente um nome conhecido entre os correspondentes dos grandes jornais do mundo no Brasil.
Mas não por um texto que os tenha encantado. Na verdade, o que ocorreu foi o oposto.
Num artigo publicado na Época, Fiúza levantou a suspeita de que o New York Times esteja recebendo dinheiro do PT para fazer a cobertura crítica que vem fazendo ao golpe plutocrata.
Ele se igualou à anedótica Ana Paula do vôlei, que ensinou ao leitores, nas redes sociais, que o NY Times é um jornal “dazequerda”.
Quem tirou o artigo de Fiúza do lixo que que se auto-arremessou foi o correspondente do Times no Brasil, Simon Romero. No Twitter, ele escreveu: “Simplesmente patético: colunista da Época sugere que NYT está sendo pago. Diz que a imprensa internacional no Brasil deve se mudar para a Venezuela.”
Jenny Barchfield, correspondente da AP no Rio, notou o “INCRÍVEL” — as maiúsculas são dela — ponto de Fiúza: “A imprensa internacional precisa tomar um pouco de vergonha na cara. Só um pouco.” Misha Glenny, ex-correspondente da BBC, apontou o “estilo cru” do inglês de Fiúza e seu xenofobismo, “que desde 1968 você não encontra na União Soviética”. (Coisas estranhas acontecem no Planeta Globo: pouco tempo atrás, um diretor da casa, Erick Bretas, se fantasiou de Sérgio Moro em seu avatar no Facebook para defender o golpe e chamar seus seguidores às ruas pela impeachment.)
Um internauta, na refrega no Twitter, informou que Fiúza o “chamou pro pau”. Sei que é isso. Numa treta com Paulo Villaça, o crítico de cinema, ele também me chamou para o pau. Tive um acesso de risos e chamei-o de Tom Mix. É um apelido que cabe para Fiúza: Tom Mix.
Foi, enfim, a consagração mundial de Fiúza.
Fiúza é um colunista de direita protegido por Gustavo Franco, um dos homens fortes de FHC na economia.
Quando eu supervisionava a Época, no começo dos anos 2000, Gustavo Franco sugeriu várias vezes para mim que desse uma coluna a Fiúza. Jamais me impressionei com o que li dele, e não o contratei.
Mas minha saída abriu muitas portas, e por uma delas entrou Fiúza, o favorito de Gustavo Franco.
Sobre o texto em si, faltou evidentemente um editor que lhe dissesse: “Não dá para publicar isso.” Os editores da Época não são exatamente corajosos para questionar um colunista e talvez não tenham discernimento bastante para perceber uma barbaridade que vai constranger a revista mundialmente.
Um dos editores é o anedótico Diego Escosteguy, que chegou a escrever tuítes em inglês para tentar convencer a comunidade internacional de que o golpe não era golpe.
É o que acontece quando os patrões optam por fâmulos e não por jornalistas. Um jornalista teria detido Fiúza. Mas um fâmulo não: é possível que ele tenha sido atpe elogiado antes que seu artigo rumasse para a gráfica.
O melhor diagnóstico é de outro jornalista estrangeiro, Glenn Greenwald: a grande imprensa brasileira é uma piada.