Um critério universal para votar. Por Luiz Carlos Bresser-Pereira

Atualizado em 11 de março de 2018 às 15:31

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POR LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA, economista

A crise da democracia brasileira foi desencadeada pelo impeachment que todos – e não apenas seus opositores – sabiam tratar-se de um golpe. Uma violência contra a democracia que a classe média tradicional justificou com a corrupção, mas, afinal, realmente corrupto foi o governo resultante. Que os economistas liberais e as elites financeiro-rentistas justificaram com a necessidade de ajuste fiscal e de reforma da previdência, mas o governo foi irresponsável no plano fiscal e fracassou em realizar a reforma.

A política está sujeita a contradições, mas precisa ser autêntica. Políticos podem ser liberais ou desenvolvimentistas, conservadores ou progressistas, mas precisam acreditar nos seus valores e agir de acordo com ele. Não podem ser cínicos.
A perspectiva de todos é que as próximas eleições abram o caminho para a superação da crise política. Mas isso só acontecerá se a autenticidade e não o cinismo definirem o candidato eleito.

Este critério, a crítica do cinismo, é para mim o critério universal – o critério que todos deveriam adotar ao votar em outubro próximo. Satisfeito esse critério, cada eleitor adotará o critério que considerar mais importante. Para mim, por exemplo, três critérios são fundamentais para a escolha do presidente da República:

Primeiro, ele deve ter um projeto macroeconômico de desenvolvimento baseado na superação da armadilha de juros altos e câmbio apreciado no longo prazo que, desde 1990, impede os investimentos, desindustrializa o Brasil e o faz ficar cada vez mais para trás no plano econômico.

Segundo, ele deve ser um verdadeiro político – alguém que sabe fazer compromissos mas está determinado e tem a força interna necessária para levar adiante seu projeto.

Terceiro, ele deve estar comprometido com a diminuição da desigualdade e ter como principal instrumento para isso uma reforma tributária progressiva, que faça os ricos pagarem proporcionalmente mais impostos do que os pobres.