George Obama é o ponto alto de um documentário feito para liquidar seu irmão Barack

Atualizado em 1 de setembro de 2012 às 22:56
Uma propaganda pró-Romney

 

Um documentário está causando furor nos Estados Unidos. O nome é 2016, e fala como seriam os Estados Unidos caso Obama ganhasse um novo mandato. O tom é apocalíptico. Os americanos viveriam numa distopia total, irremediável, como se fossem quase uma imensa Rocinha falando inglês.

Não é surpresa.

O autor do documentário, Dinesh D’Souza, um jornalista e escritor originário da Índia e radicado nos Estados Unidos, é visceralmente anti-Obama.Foi assessor de Reagan no passado.

2016 está surpreendendo nas bilheterias americanas. É um sucesso, do ponto de vista de público, inegavelmente. Foi lançado de propósito perto das eleições de novembro por ser, essencialmente, uma propaganda.

Quanto vai mudar a opinião dos leitores, é uma incógnita. Para a maior parte dos comentaristas, o público de 2016 é aquele que não precisa ser convencido de nada – votaria em Romney de qualquer forma. Souza defende a discutível tese de que, por ser filho de um homem africano, Obama no fundo tem raiva do imperalismo americano, e luta por miná-lo.

Mas o que me chamou mais a atenção foi a aula de sabedoria que involuntariamente Souza recebeu de George Obama, irmão pela parte do pai de Barack.

Souza foi entrevistá-lo na África, e tentou extrair de George, várias vezes, uma condenação ao irmão poderoso e distante. Vou colocar essa conversa no pé deste artigo para que você cheque.

Ele não deveria ajudar você? – pergunta Souza. “Ao ajudar o mundo, ele está me ajudando”, responde George, calmamente. O entrevistador insiste no tema, e George fala, como um Sócrates de ébano: “Eu é que tenho que me ajudar.” Mais uma investida de Souza, e George responde que seu irmão tem muita coisa para fazer, e além do mais uma família para tocar. Portanto, George não vê nada de mais na falta de proximidade entre ele e o irmão na Casa Branca.

Souza foi desonesto intelectualmente na entrevista. Tratou George como se este fosse um idiota. Mas no final quem se deu bem foi George, sereno, lúcido, inteligente.

Nenhum filósofo, de Platão a Confúcio, de Sêneca a Montaigne, defendeu outra idéia que derrotasse esta: quem tem que cuidar de você é você mesmo. Não transfira para o mundo uma responsabilidade que é sua.

Clap, clap, clap. Palmas para George Obama. De pé. E vaias para o arquiconservador que, com a mente intoxicada de veneno, quis atirar irmão contra irmão.