Um dos maiores nomes da política externa americana diz qual é a maior ameaça ao mundo hoje: os EUA

Atualizado em 2 de julho de 2023 às 20:26
Biden e Trump

Perfil publicado neste sábado (1º) pelo jornalista Peter Barker no jornal norte-americano The New York Times sobre Richard Haas, Conselheiro de Relações Internacionais de diversos presidentes dos Estados Unidos, mostra como os Estados são a maior ameaça à paz mundial nos tempos atuais.

“Em todos os lugares em que foi enquanto presidente do Conselho de Relações Exteriores, Haass ouviu a mesma pergunta: o que o faz perder o sono? Ele não teve falta de opções ao longo dos anos – Rússia, China, Irã, Coréia do Norte, mudança climática, terrorismo, insegurança alimentar, pandemia global.O perigo mais sério para a segurança do mundo agora? Os próprios EUA, disse ele com tristeza outro dia”, diz o texto de Barker.

Para Haas, “em vez de ser a âncora mais confiável em um mundo volátil, os Estados Unidos se tornaram a fonte mais profunda de instabilidade e um exemplo incerto de democracia. Acho que há um grau de imprevisibilidade e falta de confiabilidade que é realmente perigoso. Para os EUA terem sucesso no mundo, hoje é difícil que nossos aliados dependam de nós”.

Recentemente, Haass publicou o livro “The Bill of Obligations: The Ten Habits of Good Citizens” [“A Declaração de Obrigações: Os Dez Hábitos dos Bons Cidadãos”, em tradução livre], listando maneiras dos americanos poderem ajudar a curar a sociedade, como “Be Informed” [“Fique informado”], “Remain Civil” [“Permaneça civil”], “Put Country First” [“Ponha o país em primeiro lugar”]: todas obviedades, mas impensáveis nos dias de hoje. Além do trabalho de consultor, ele quer passar o resto da vida promovendo a educação cívica.

“Este novo livro não é algo que eu teria previsto escrever cinco ou 10 anos atrás, mas na verdade acho que é quase uma reformulação da democracia americana. Agora, tornou-se uma preocupação de segurança nacional”, diz o ex-conselheiro. Por sua posição e temperamento, Haass é um membro do establishment que caiu em desgraça na era Trump, uma voz do consenso bipartidário que, bem ou mal, definiu a postura dos EUA perante o mundo no pós II Guerra.

Lá como cá: “Veterano de quatro gestões, uma democrata e três republicanas, Haass, no entanto, transcendeu o mundo insular dos especialistas em políticas de think tanks e lamentou a polarização política e os excessos dos últimos anos e tentou dar sentido a tudo isso”, diz o New York Times sobre Haass. (…)

“Ao longo do século passado, os Estados Unidos passaram por outros períodos de divisão e discórdia – macartismo, Vietnã, direitos civis, Watergate. Os assassinatos, tumultos e a guerra de 1968 muitas vezes vêm à mente como um ano excepcionalmente miserável na vida americana”, diz o jornal. Mas Haass vê este momento como ainda pior. “Essas não eram ameaças ao sistema, ao tecido do país”, disse ele. “É algo muito significativo.”

Barker relata que Haass concordou em aconselhar Trump sobre assuntos externos em 2015. Mas Haass admite que avaliou mal o bombástico incorporador imobiliário. “Presumi que o peso do cargo iria moderá-lo ou normalizá-lo, qualquer que seja a palavra que você queira usar – que ele seria mais respeitoso com a liturgia. Estava errado nisso. Na verdade, ele se tornou mais radical. Ele dobrou a aposta”.

“Eu deveria ganhar 25 centavos de dólar para cada não americano, cada líder estrangeiro que me dissesse: não sei mais o que é a norma e o que é a exceção. O governo Biden é um retorno à América que eu considerava natural e Trump será um pontinho histórico? Ou Biden é a exceção e o trumpismo é a nova América?”, disse o conselheiro a Barker.