Um governo com muitos generais no ministério e só soldado raso na política. Por Fernando Brito

Atualizado em 20 de fevereiro de 2019 às 10:39
Mourão e Bolsonaro

PUBLICADO ORIGINALMENTE NO TIJOLAÇO

Começa hoje o espetáculo tragicômico da reforma da Previdência, chave mestra da continuidade de um governo que, em menos de dois meses, se não perdeu toda a popularidade de seu chefe, perdeu toda a credibilidade com os setores que, em dias recentes, achava que ele poderia ser enquadrado em algum grau de normalidade.

E a referência recente para saber de seu sucesso ou insucesso nesta empreitada – para ele vital –  é o que tivemos, há dois anos. com a frustrada “tentativa Temer” na área, à qual, aliás, em quase tudo a de Bolsonaro, pelo que se sabe, parece, quando não agrava.

Se o “pacote de maldades” do presidente golpista tinha absurdos inviáveis, como o dos 49 anos de contribuição para ter o benefício integral, o do persidente recluso também os têm, como a ideia estapafúrdia de pagar benefícios muito menores que o mínimo, como revela hoje O Globo:

As regras dos benefícios assistenciais — pago a idosos e deficientes da baixa renda — também foram alteradas pelo governo. Segundo fontes a par das discussões, o auxílio começará a ser pago aos 60 anos, no valor de R$ 400, e passará a ser equivalente ao salário mínimo aos 70 anos. Antes, a proposta era pagar R$ 500 a partir dos 55 anos.

Aliás, a ânsia de mostrar que a reforma “atinge todo mundo” traz implícita a questão de, portanto, desagradar a todos.

Pode-se argumentar que este Congresso é “diferente”, dada a renovação dos eleitos. Bobagem: mudaram os nomes, permaneceram a falta de qualidade política e, sobretudo, a falta de espírito público, agora salpicada por alguns Frotas, Kins e “major isso e coronel aquilo”.

A diferença está no fato de não existirem operadores políticos para conduzir a proposta do Governo. Temer tinha, no Palácio e na Câmara, um verdadeiro exército de personagens aptos a falar a língua dos ratos e a dar nó em pingos d’água suja.

Seu líder na Câmara, um certo Major Vitor Hugo, é tratado na casa como um molambo. O chefe (chefe?) da Casa Civil (civil?), Ônyx Lorenzoni, nunca foi um articulador e, se fosse uma loja online, estaria arruinado no Procon por não entregar o que vende.

Procurem com uma lupa e vejam se há algum interlocutor político razoável no Governo.

O governo pode estar cheio de generais na sua composição ministerial. Mas, na política, só tem soldado raso.