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Um mês da morte de Marielle e o caso se encaminha para a mesma vala de Amarildo. Por Nathalí Macedo

Marielle Franco

Cadê o Amarildo?

Essa pergunta ecoa sem resposta desde 2013.

Jamais se teve notícias do pedreiro que desapareceu depois de ser levado por policiais militares da UPP (Unidade de Polícia “Pacificadora”) da comunidade em que vivia.

O que o caso Amarildo e o caso Marielle têm em comum é a suspeita de terem sido vítimas de violência policial – no país que, é bom lembrar, tem a polícia mais violenta do mundo.

O que os difere é que Marielle era uma voz que ecoava junto com muitas outras vozes na luta pelos direitos humanos e, não por acaso, contra a violência policial.

A repercussão do caso Marielle – uma execução política – talvez iniba a impunidade escancarada e obrigue a polícia a dar uma resposta ao clamor social.

Um mês depois de sua morte, a única pista que se tem são impressões digitais encontradas em um dos projéteis e uma testemunha morta: Carlos Alexandre Pereira Maria, colaborador do vereador Marcello Siciliano (PHS) foi morto após ser ouvido em depoimento sobre o caso.

Agora, a polícia quer comparar as digitais encontradas na cena do crime às digitais de Carlos Alexandre.

O PHS – Partido Humanista Democrático – é bom dizer, se auto intitula um partido de direita moderada.

Isso significa, a olho nu, que as investigações caminham para a hipótese de a execução de Marielle – morta dias depois de confrontar publicamente a polícia – seja atribuída a uma pessoa ou partido, e não a uma instituição – um batalhão, para ser exata – para a qual, até agora, os fatos apontavam.

Transformar uma morte política de repercussão internacional em uma briga partidária – que conduz, novamente, à culbabilização da vítima, especialmente em razão da misteriosa morte do suspeito – é uma ideia terrivelmente genial que, mais uma vez, livra a cara da polícia, como livrou no caso de Amarildo, em que nenhum culpado foi preso.

Ainda não se sabe quais rumos a investigação tomará, mas é possível prever: querem nos fazer acreditar que Marielle foi morta por adversários políticos (o que, aliás, não é uma hipótese desprezível e não faz com que a execução deixe de ser política), e não pela própria polícia que confrontava.

No fim, pouco importam as digitais encontradas nos projéteis ou a resposta que nos oferecem quase que por educação.

No fundo, sabemos que Marielle foi morta por uma mão sem digitais, a mesma que matou e mata tantos de nossos Amarildos: a mão do Estado.

Nathalí Macedo

Escritora, roteirista, militante feminista, mestranda em Cultura e Arte. Canta blues nas horas vagas.

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Nathalí Macedo

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