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Um país doente se refestela com as fotos da necropsia de Marília Mendonça. Por Nathalí

Marília Mendonça. (Foto: Reprodução)

O vazamento das fotos da necropsia de Marília Mendonça tem sido assunto nas redes desde a última quinta-feira. As fotos do cadáver da artista foram divulgadas e a família entrará com pedido de indenização perante a justiça.

A veiculação das imagens configura crime perante o Código Penal brasileiro, mas isso não impediu que elas fossem divulgadas e acessadas pelo país inteiro. Segundo as primeiras apurações, as fotos foram vazadas pela própria polícia.

Embora seja cedo para cravar qualquer informação sobre o fato, uma vez que as investigações ainda estão em fase inicial, o que se sabe é que as imagens têm origem em um print do próprio computador interno da Polícia Civil.

“A Polícia Civil informa que o sistema onde ficam armazenados os documentos investigativos são auditáveis e que a Superintendência de Informações e Inteligência Policial já está realizando os levantamentos com vistas a identificar todos os acessos ao referido laudo. A polícia esclarece que não coaduna com esses acontecimentos e assegura que a ação está sendo apurada para esclarecimentos e responsabilização dos envolvidos”, disse a corporação em nota.

A verdade é que a polícia – sobretudo a Militar, mas também a civil – costuma proteger seus membros criminosos no intuito de proteger também a própria reputação.

Mesmo em se tratando de uma pessoa pública, como é o caso de Marília Mendonça, e mesmo diante do clamor social que já se avizinha em prol da investigação e punição dos culpados, dificilmente esse caso será devidamente resolvido.

O que este fato demonstra – além do total desrespeito à memória e à família da cantora goiana – é que não se pode confiar na própria polícia nem mesmo para salvaguardar a intimidade de uma pessoa viva ou morta. Não estamos seguras em lugar nenhum – nem mesmo a sete palmos do chão.

Para além disso, evidente que, se há vazamento, há público. Esse público é o mesmo que se delicia com fotos de corpos e notícias sensacionalistas em programas como o de Datena, por exemplo.

Gente que cultua a morte e em nome desse culto desrespeita inclusive a memória de quem diz admirar. Essas pessoas de alma pequena alimentam um entretenimento mórbido e obscuro.

Punir os culpados, embora fundamental, não é suficiente quando toda uma sociedade foi educada para consumir esse tipo de conteúdo criminoso.

Marília Mendonça não é a primeira e não será a última: enquanto existirem, na TV aberta, programas de “entretenimento” cujo tema principal é a morte, enfrentaremos absurdos como este.

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Nathalí Macedo

Escritora, roteirista, militante feminista, mestranda em Cultura e Arte. Canta blues nas horas vagas.

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Nathalí Macedo

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