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Um país infeliz. Por Fernando Brito

Bolsonaristas em ato golpista. Foto: Reprodução

Publicado originalmente no Tijolaço:

Por Fernando Brito

Duas tristes reportagens, na Folha e em O Globo mostram, com detalhes, o que semana passada já se registrava aqui, com base em estudos sobre a renda da população: o Brasil vive uma situação diametralmente oposta àquela que experimentava uma década atrás: é um país desesperançado, do qual muitos querem sair, quando fomos, há poucos anos, uma terra de oportunidades, recebendo gente do mundo inteiro que enxergava aqui o que hoje nossos jovens não veem mais: futuro.

Na Folha, os dados produzidos pela Fundação Getúlio Vargas, mostra que os 50 milhões de brasileiros entre 15 e 29 anos formam “uma juventude decepcionada em níveis recordes, sem perspectiva de trabalho e insatisfeita com a condução do país”. Mesmo na pobre América Latina, somos a nação em que menos se acredita no trabalho como forma de progredir. Com apenas 70% apostando nisso, até a Bolívia nos deixa muito para trás, com 91%. Sair do país, incrivelmente, é a alternativa imaginada por quase metade (47%) destes jovens.

Em O Globo, surgem dados que explicam o que se passa: entre 38 países, temos a segunda maior “taxa de infelicidade”, só abaixo dos turcos. O cálculo, feito a partir de taxas de desemprego e de inflação em doze meses, se traduz cruelmente nas palavras da diarista Tayene da Silva, mãe de quatro filhos:

— Cato latinha, vendo ferro, papelão às vezes. Quando aparece faxina, o que é raro, faço. Mas está difícil. Carne não entra aqui em casa há tempos. A conta de luz está muito cara, e o gás de botijão também. Não vejo esse crescimento (da economia) que falam, é só ilusão. Acho que a situação está ruim e tende a piorar porque falta oportunidade.

De volta à pesquisa publicada pela Folha, este empobrecimento alcança índices cruelmente impressionantes: “os grupos tradicionalmente excluídos (analfabetos, negros e moradores do Nordeste e do Norte) tiveram perdas de renda duas vezes maiores do que a média geral, ela foi cinco vezes mais forte para jovens entre 20 e 24 anos; e sete vezes maior para adolescentes que trabalham”.

Brasileiros paupérrimos, para si e para os outros, desenham a imagem de um país pobre: a idéia de que o Brasil é o país da pobreza alcança mais da metde (51,7%) das pessoas, quando, entre 2011 e 2014, não chegava a 15% esta percepção.

Está aí o resultado dos “patrioteiros”, do que os “camisas da CBF” nos trouxeram. É cada vez mais importante salvar o Brasil desta ladeira.

E parece que estamos tomando consciência de que é preciso afastar quem nos bloqueou o caminho da felicidade.

Fernando Brito

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Fernando Brito

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