Um país que nunca puniu torturadores e apologistas da ditadura está fadado a eleger um Bolsonaro. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 31 de março de 2019 às 9:56
Herzog

O filósofo e professor da USP Vladimir Safatle foi uma das personalidades entrevistadas no programa que o DCM fazia com produção da TVT.

Safatle falou da nova configuração da sociedade brasileira.

O Brasil precisa encarar, dizia ele, que “não é um país”.

“Somos completamente divididos”, afirmou.

Num trecho, ele comentou sobre Jair Bolsonaro e a turma que pedia intervenção militar.

“O Brasil encarou de uma vez por todas que não é um país. É completamente dividido. Nunca foi um país”, pontuou.

“Nós nem sequer conseguimos constituir uma narrativa unificada sobre a ditadura militar. Nós não conseguimos estabelecer que isso é uma linha vermelha e jamais ocorrerá”.

“Tanto é que temos aí Jair Bolsonaro. Campeão de votos entre os mais ricos, acima de cinco salários mínimos”, declarou. “Ou seja, quem salva o Brasil são as pessoas mais pobres. Se dependesse das pessoas acima de 5 salários mínimos, a gente já teria sido transformado numa aberração mundial”.

A ideia de Bolsonaro de “comemorar” o golpe — depois “rememorar” — agitou os fantasmas que nunca deixaram de nos assombrar.

No nosso pacto, na nossa vocação conciliatória, na Anistia, as Forças Armadas não foram forçadas a reconhecer os crimes no período entre 1964 e 1985.

Ao contrário da Argentina, por exemplo, ninguém pagou pelas torturas, mortes e ocultações de cadáveres. 

O Uruguai está julgando agora seus “estupradores fardados”.

No Chile, Piñera se recusou a festejar Pinochet com o visitante Bolsonaro. Pinochet foi um assassino corrupto e esse fato não está em disputa.

Os apologistas brasileiros sempre fizeram o diabo.

Os Bolsonaros chamam Ustra de “herói” há anos. 

Seviciadores subiram em carros de som na avenida Paulista ao lado de senhoras carregando cartazes nos quais se lia “por que não mataram todos em 64?”. 

O Brasil mal discutiu o assunto.

Como diz Safatle, não estabelecemos uma linha, um limite civilizatório.

Se um chanceler defende que o nazismo é de esquerda, é fácil afirmar que não existiram golpe ou ditadura no país.

A sombra e a mistificação são muito mais intensas que a luz.

As trevas encontraram seu messias: Jair Bolsonaro.