
O mundo iria acabar com a prisão de Bolsonaro, mas continua do mesmo jeito e não há sinais de que esteja ameaçado. As primeiras reações são frustrantes para quem esperava a implosão de um levante verde-amarelo.
Flávio Bolsonaro é quem mais se dedica à tentativa da resistência, com o apoio de Tarcísio, Michelle, Sóstenes Cavalcante e do irmão Eduardo, com as mensagens vindas dos Estados Unidos. Mas é pouco. Tem muita gente falante que está calada.
As manifestações em Brasília, diante do prédio da Polícia Federal, e em São Paulo, na Avenida Paulista, foram fracassadas. A situação é desoladora para quem esperava uma comoção nacional.
O bolsonarismo está atordoado com as informações acrescentadas ao que noticiam desde a prisão do chefe da organização criminosa. Tudo é contra ele e contra a extrema direita. A cada notícia, a situação de Bolsonaro só piora.
O bom seria, para o fascismo, que ele tivesse sido preso depois de uma tentativa de fuga espetacular pelas ruas de Brasília montado numa moto, com capacete amarelo, jaqueta preta e uma bandeira do Brasil esvoaçante amarrada no pescoço.
Seria fantástico ver Bolsonaro barrado a uma quadra da embaixada americana por um comboio da Polícia Federal. Seria extasiante para a militância se ele fosse apeado da moto com a mão erguida e fazendo arminha com os dedos.
Mas não. Bolsonaro foi preso como um velhinho confuso e admitiu, candidamente, que não sabia como desmontar uma tornozeleira. Resignado, com voz baixa, dizem que dopado por remédios que não deveria ter tomado.

Esse sujeito, que por sorte não teve o rosto filmado durante o flagrante em casa, é o líder de quase metade do Brasil. Não é um líder imposto, mas eleito uma vez e quase reeleito depois.
É o ídolo de gente que ainda o esperava para que retornasse à atividade política, depois de anistiado pelo Congresso. Num sábado, Bolsonaro acabou com os sonhos de milhões de brasileiros.
O surto que ele teria sofrido, quando tentou se livrar da tornozeleira, conforme os próprios médicos, parece estar sob controle. É só ajustar a medicação.
Mas e o Brasil, seu Jair? Como ajustar os remédios que o Brasil toma desde o golpe contra Dilma em 2016, que tiveram doses reforçadas com a prisão de Lula em 2018?
O Brasil continuará sob os efeitos da overdose de psicotrópicos lavajatistas e bolsonaristas? Metade do Brasil antilulista e anticomunista permanecerá surtada, principalmente em época de eleição?
É a nossa grande dúvida. Como a alucinação de Bolsonaro vai repercutir nas bases sociais e na turma que pretende sucedê-lo? Tarcísio e Michelle podem ser abalados? Flavio é o cara agora?
A velha direita continuará articulada a partir da força eleitoral de Bolsonaro, ou vai conseguir se livrar dele? Teremos respostas aos poucos, até a eleição, sabendo que serão muitas as notícias sobre novas tornozeleiras até lá. Tornozelo é o que não falta.
(A foto que ilustra esse texto é de Gabriela Bilo, da Folhapress. Bolsonaro aparece em sala da Superintendência da Polícia Federal em Brasília, após receber visita de Michelle Bolsonaro)